20/06/2017

DIÁRIO DE BORDO: já dei que chegue para o peditório dos incêndios (mas não resisto a dar mais uns trocos)

Ao contrário do que dizem alguns maledicentes, a calamidade resultante do incêndio de Pedrógão Grande não se deve ao governo, nem aos Kamov parados comprados com a ajuda do amigo Lacerda Machado, nem ao engavetamento do Plano Nacional contra Incêndios, nem à ineficácia da protecção civil. Deve-se à trovoada seca e ao aquecimento global. O que devemos ao governo é a prosperidade que atravessamos, prosperidade que os mesmos malecidentes atribuem ao turismo e à conjuntura internacional (para já não falar ao governo anterior).

A sério: é claro que este governo tem culpas no cartório e tem uma enorme falta de vergonha, ajudada pela falta de discernimento dos eleitores, quando procura ter créditos do que não fez e foge com o rabo à seringa do que tem responsabilidades. Contudo, o ponto a que chegámos é o resultado de mais de um século de políticas erradas e incúria. Desde pelo menos 04/09/2005 que venho escrevendo sobre este tema - para não maçar os leitores remeto apenas para o último desses posts - e não vou repetir-me.

Tal como uma dívida de 130% do PIB demoraria décadas a atingir a sustentabilidade e não se paga com afectos, beijinhos, abraços e selfies de Marcelo, nem com as manobras e prestidigitação de Costa, também os incêndios florestais não se resolverão com as mesmas tretas - aliás, parte dos incêndios florestais nunca terá solução e, não, não apenas pelas mudanças climáticas.

Correndo o risco de ser amaldiçoado pelo politicamente correcto e a hipocrisia dominante, faço um prognóstico com elevada probabilidade de se concretizar: a uns dias ou semanas de luto, a donativos de gente generosa e bem intencionada e outra nem por isso, a concertos de solidariedade, seguir-se-ão uns meses ou anos de masturbação teorética, serão produzidas mais ejaculações legislativas, serão criados mais organismos onde poderão ser alojados mais ASPON (assessores de porra nenhuma, como dizem os brasileiros) da família César ou de outras, serão adjudicados mais uns contratos com a assessoria de lacerdas e uns anos e vários milhões de euros depois estaremos mais ou menos no mesmo sítio.

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