O título desta crónica pode induzir o leitor a pensar que aqui em casa se prevê a avaria iminente da geringonça. O que prevejo não é a iminência, é a irreparabilidade que pode levar ainda algum tempo, dependendo de várias circunstâncias. Contra-intuitivamente, uma das circunstâncias é o aumento das intenções de voto no PS que se arrisca a pôr nervosos os comunistas, fazendo-os sentir-se supérfluos, e demasiado excitados os berloquistas. Um bom indicador do nervoso comunista é o aumento de 36% até Abril do número de greves em relação à paz nupcial do mesmo período do ano passado.
Seja como for, como ainda há dias aqui referi, os 44% de intenções de voto nas últimas sondagens devem fazer-nos lembrar os 41% do PS de José Sócrates em Março de 2010 a um ano do resgate.
Não que o resgate esteja aí ao virar da esquina por várias razões que na sua maioria não se devem à geringonça. Na verdade, a única que se deve à geringonça é ter mantido no essencial as políticas de «austeridade» do governo anterior, criando ao mesmo tempo uma realidade paralela que impinge aos eleitores com a preciosa e indispensável ajuda da comentadoria do regime e do jornalismo de causas.
E falando de austeridade, recorde-se que o PS de José Sócrates que nos conduziu ao resgate não deixou de aplicar intensamente medidas de austeridade. Leia-se este artigo de Miranda Sarmento e constate-se que «em menos de um ano, entre maio de 2010 e o OE/2011, o governo de José Sócrates (atingiu) um valor de “austeridade” de 7,8 mil M€ (qualquer coisa como 4,5% PIB)» o que compara com «o governo PSD/CDS, em 4 anos e meio de governação aplicou medidas de “austeridade” de cerca de 10,2 mil M€.»
As outras razões são a melhoria da conjuntura internacional, incluindo europeia, e, em particular, o contributo do turismo que aparentemente tem sido o motor principal da criação de emprego - prevê-se que no 3.º trimestre 30% das novas contratações sejam na restauração e hotelaria. Sem esquecer, como a OCDE reconheceu, que a recuperação do emprego se deve às reformas do mercado de trabalho (tímidas, acrescento) do anterior governo. O volume de negócios dos serviços teve um crescimento homólogo de 9% em Abril.
Daí que o alinhamento da «exuberância irracional», para usar o termo de Alan Greenspan com outro propósito, suportada pela psique bipolar dos portugueses e alimentada pelos afectos agitados de Marcelo e a «boa disposição» de Costa, com a conjuntura internacional crie um clima positivo que medido pelo indicador coincidente do BdP mostra uma melhoria de 3% em Maio. Antes de embandeirarmos em arco veja-se no diagrama seguinte o que se passou uns meses antes do resgate.
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Fonte: «Que caminhos para a dívida pública portuguesa? |
Uma nota positiva não intencional, segundo o Público muito preocupante para os sindicatos, é que a menos de 3 semanas do final do prazo «apenas» 14.800 «precários» se candidataram a vitalícios. Note-se o «apenas».
Para quem, como eu, estribado na história recente, acredita nas iniciativas governamentais em geral e socialistas em particular, promovidas por gente que nunca adicionou um cêntimo ao VAB, menos do que em vendedores de banha-da-cobra, vejo com preocupação cada vez que um primeiro-ministro pega na mala de caixeiro-viajante e parte por ai a fazer de Oliveira da Figueira. Como foi agora o caso de Costa na Argentina que, como escreveu João Vieira Pereira no Expresso Diário, é «uma das economias mais voláteis do mundo, palco de várias crises financeiras e outros tantos resgates (neste aspecto temos muito em comum). Até parecia que estava a ver António Guterres a apelar às empresas portugueses para irem para o Brasil… com o resultado que todos conhecemos….»
Eu EXIJO a demissão da geringonça.
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