Outros Habituem-se
Ontem foi um dia especial para o par geringonça-presidente dos afectos que nos desgoverna. O papa Francisco andou por Fátima e canonizou Francisco e Jacinta, os lampiões foram tetracampeões e Salvador Sobral venceu o concurso da Eurovisão com a sua cançoneta, pela primeira vez depois de umas 50 tentativas (várias delas com canções de melhor qualidade do que esta).
O que tem isto a ver com a esperança de vida da geringonça? Tem tudo a ver. Repare-se como Costa e Marcelo andaram agarrados à sotaina de Francisco, repare-se como Costa foi a correr à Luz para ficar na fotografia do tetra. Não se colaram ao Salvador (o Sobral, não o Jesus) porque o rapaz estava em Kiev a 6 horas de voo, mas mandaram mensagens e lá iremos ter o número incontornável das medalhas.
É claro que todos sabemos que com poucas excepções os políticos portugueses tentam grudar-se às figuras populares como vampiros a sugar a sua celebridade, a maioria das vezes fugaz. Porém, Costa e Marcelo são especialmente vorazes e estão aproveitar uma fase em que a depressão dos portugueses bipolares (quase todos) nos anos 2011-2014 está a ser substituída por um estado de euforia a propósito seja do que for: dos recordes de Ronaldo, do turismo e do «Portugal está na moda», uma espécie de restyling que do «bom aluno» e do «homem novo» dos tempos de Cavaco Silva, e até do «défice mais baixo» desde Dona Maria II com que se tem enfeitado o maior crítico da imaginada obsessão pelos défices - António Costa, lui-même.
Podemos, pois, concluir que a coisa se está a pôr de feição para perpetuar a geringonça em S. Bento e o presidente dos Afectos nos picos da popularidade? Nem tanto, e nem falo da maldita realidade - o «diabo» de Passos Coelho chegar sem ser convidado - que regularmente vem acabar com a festa. Há imensos espectadores na sala que não parecem convencidos com a qualidade do show. Vejam-se os resultados das sondagens. Como explicar que após quatro anos de aperto do cinto, seguidos de 18 meses de reversões, distribuições, boas notícias a toda a hora, promessas, uma boa imprensa, défices aparentemente miraculosos, crescimento medíocre, mas tão exaltado que parece a Irlanda, etc., com uma oposição ainda aturdida pelo truque de prestidigitação de Costa e a lamber as feridas, as intenções de voto do PS não cheguem a 40%?
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