«Costa é suficientemente honesto para admitir que não cantou na Ucrânia. Mas no caso da economia, insistirá em que o mérito é seu: foi a sua “reposição de rendimentos”, como ensinou ontem, que operou o milagre. Muito bem. Sabem quando é que ocorreu a maior taxa de crescimento antes do trimestre passado? Exacto: em 2010, na véspera da bancarrota, depois de José Sócrates ter reposto rendimentos no ano eleitoral de 2009. (...)
Há um elemento comum nestas duas partes da ilusão: o desaparecimento dos antecedentes, a eliminação da causalidade. Entre 2011 e 2015, desapareceu o governo socrático, que endividou o país e chamou a troika. Desde 2015, desapareceu Passos Coelho, que, quase sozinho, conseguiu renegociar as condições do ajustamento e executá-lo. Na primeira parte da ilusão, Sócrates foi encoberto para concentrar todas as culpas em Passos Coelho; na segunda parte, é Passos quem desaparece, para que António Costa recolha todas as palmas.
Mas em que consiste então a ilusão? A ilusão é a ideia de que a prosperidade depende totalmente do poder do Estado, que a riqueza é uma torneira que os governos abrem e fecham quando lhes apetece. Se Portugal não teve festa em 2012, foi porque Passos não quis. Se Portugal faz festa em 2017, é porque Costa quer. E portanto, não temos de nos preocupar com quem nos tenta convencer a melhorar as condições para o investimento e o trabalho em Portugal. A única coisa de que precisamos é de primeiros-ministros que distribuam dinheiro.»
«Não foi António Costa quem ganhou a Eurovisão?», Rui Ramos no Observador
Sem comentários:
Enviar um comentário