16/05/2017

Um governo à deriva (31) - Crescimento apesar de

O INE divulgou ontem que o PIB cresceu 2,8% no 1.º trimestre, em termos homólogos. Os tambores da geringonça rufaram e os mídia fizeram-se eco de celebrações entusiásticas. Por exemplo: «Economia cresce ao ritmo mais rápido em dez anos». É caso para tantas celebrações? Sendo estas um tanto exageradas, não se pode dizer que não existem razões para celebrar, mas não pelas razões que a geringonça celebra.

Em primeiro lugar, convém temperar a excitação, visto o crescimento do 1.º trimestre deste ano comparar com o crescimento de 1,0% do 1.º trimestre de 2016 que tinha caído de 1,4% no trimestre anterior,

Em segundo lugar, porque, segundo o INE, este crescimento foi o resultado do «maior contributo da procura externa líquida, que passou de negativo para positivo, reflectindo a aceleração em volume mais acentuada das Exportações de Bens e Serviços que a das Importações de Bens e Serviços.» (Destaque de 15 de Maio) Não consta que alguma das medidas tomadas pelo governo tenha tido influência nestas variáveis.

Terceiro, porque estes resultados não são consequência da estratégia que o governo definiu nem no Documento dos 12 Sábios (releiam-se os posts de análise de «Uma década para Portugal»), nem no Programa de Governo, nem de medidas tomadas por este governo. Aliás, nenhuma medida poderia ter estes efeitos poucos meses de ser tomada, pelo que se esses efeitos resultam de medidas governamentais teriam muito mais a ver com o governo anterior do que com este.

Invoco a autoridade mais insuspeita a este respeito disponível no mercado das opiniões: a do pastorinho da economia dos amanhãs que cantam favorito do (Im)pertinências. Nicolau Santos, sempre pronto a exaltar os feitos dos governos socialistas, escreveu ontem no Expresso Diário:
«A economia terá crescido no primeiro trimestre deste ano mais de 2,4%, o valor mais elevado desde há sete anos. Pecado: foi à boleia das exportações e do investimento, uma “estratégia de crescimento correta”, embora “contrária" à que o Governo defendia, que era crescer na base do consumo”. Realmente, é um aborrecimento.»
Pois é. Dito de outra forma, a economia cresce (vamos ver por quanto tempo) apesar do governo.

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