Outras avarias da geringonça.
Ao mesmo tempo que se empluma com um défice mais baixo do que os défices do governo que nos castigou com a austeridade, o governo de Costa bate mês a mês os recordes da dívida que em Fevereiro atingiu 243,5 mil milhões de euros, ou seja mais 12 mil milhões de euros em relação a Fevereiro de 2016. Nesse mesmo período o défice segundo os números do governo não ultrapassou 4 mil milhões de euros. Como um défice gerou um aumento da dívida três vezes superior é algo só explicável por uma contabilidade voodoo.
Todas administrações públicas fazem o seu melhor para contribuir para a dívida. Por parte dos hospitais a dívida às farmacêuticas está a aumentar este ano ao ritmo de um milhão por dia e já atingiu 845 milhões.
E falando do recorde do défice de 2016, e esquecendo, por agora, as trampolinices, veja-se no quadro seguinte (créditos: Mário Amorim Lopes) como o que seria no mínimo um défice de 3,8%, a comparar com o défice de 3% de 2015 (sem Banif), se transformou num recorde de 2,1%:
Já teríamos problemas suficientes com uma dívida pantagruélica (a 3.ª depois da Grécia e Itália), ainda assim estamos a trabalhar para não termos falta de problemas. Os custos do trabalho em Portugal aumentaram 2,5% no ano passado, acima da média europeia. Como não consta que a produtividade tenha tido aumento semelhante, isso significa que piorámos a nossa posição competitiva o que para a geringonça não é problema porque tudo gira à volta do Estado e o Estado só tem sujeitos passivos, não tem clientes nem exporta. Para compensar, o volume de vendas a retalho em Portugal acelerou em Fevereiro tendo aumentado 3,1% face a Janeiro, o maior aumento da UE (média 0,7%). Aguardemos os dados de Fevereiro e Março da balança comercial para ver o que aconteceu às importações.
Outra realização com que o governo se tem emplumado é a redução do desemprego. É claro que, em qualquer caso, tudo o resto igual, sempre é melhor ter o desemprego a descer - segundo os últimos dados do INE em Fevereiro caiu para 10% ao nível de Março de 2009. Pois é, mas a única coisa que governo contribuiu para isso foi criar mais emprego numa função pública a abarrotar de gente. E quanto às empresas, recorde-se que a redução do desemprego só por si não melhora a economia - veja-se o contra-exemplo da Espanha que continua com um desemprego superior a 20% e está desde há dois anos a crescer acima dos 3%. Ou veja-se o exemplo de Portugal que tem o desemprego ao nível de 2009 mas o PIB de 2016 ainda estava abaixo de 2009 (173,7 contra 176,1 mil milhões a preços constantes - Pordata).
A transformação do Estado Sucial em estado assistencial dos funcionários públicos prossegue a bom ritmo. Metade desses funcionários (330 mil) já conseguiram os 10 créditos necessários para serem promovidos ao escalão seguinte e o governo garante que haverá progressão mesmo sem avaliação - o que não fará grande diferença sendo a avaliação um mero proforma. Por outro lado, Costa garante que os «precários», qualquer que seja o seu número, terão um contrato a termo - «se forem 80 mil serão 80 mil», disse. Em cima de tudo isso, Nogueira o apparatchik do PCP que manda de facto no ministério da Educação, já conseguiu criar para o próximo ano mais 3.462 vagas para novos professores num sistema de ensino não universitário que desde 2009 se reduziu de 350 mil alunos, passando de um total de 2.062 mil para 1.712 mil em 2015 (Pordata).
Dir-se-ia que os utentes da vaca marsupial pública estão caminho de alcançar o paraíso na terra. Contudo, apesar de não serem pobres, são mal-agradecidos e preparam-se para convocar uma greve para 26 de Maio (adivinhou! uma sexta-feira!) e a Fenprof prepara-se para uma grande manifestação em 18 de Abril,
Nessa transformação do Estado Sucial, a geringonça pretende atribuir ao senhorios um papel activo para o que vai alterar a lei do arrendamento para dificultar despejos e aumentar o valor das indemnizações. O caminho é conhecido e conduz ao aumento das rendas e à degradação dos imóveis, a que se segue a necessidade de os reabilitar à custa de impostos.
Por mais atestados que S. Bento e Belém emitam à saúde da banca, o estado desta continua a inspirar sérios cuidados. Segundo o relatório da Autoridade Bancária Europeia, enquanto a banca europeia melhora em geral, a portuguesa piora em particular. No final do ano passado o rácio de malparado (20%) era o terceiro mais alto e os rácios de capital dos bancos portugueses eram os mais baixos.
A novela Novo Banco, que está a substituir a da Caixa no topo das audiências, veio expor algumas fracturas na geringonça e sobretudo mostrar como Costa não hesita em dar o dito por não dito e vice-versa, com uma facilidade que faria inveja ao seu antecessor José Sócrates. A este propósito já se converteu ao vilipendiado TINA (There Is No Alternative) e até trocou de campo com Passos Coelho - a utilização do Fundo de Resolução que há dois anos tinha custos para os contribuintes agora já não tem custos nenhuns.
Para terminar voltando à vaca fria da Caixa, a Fitch atribuiu à emissão de dívida perpétua de 500 milhões de euros a notação B-. o sexto nível de lixo e três abaixo da própria notação da Caixa. Se esta notação fosse a medida da fé na Caixa, deveríamos concluir que a Fitch é agnóstica a esse respeito.
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