Outras avarias da geringonça.
A farsa das sanções chegou ao fim do primeiro acto com a gerigonça inchada de equívocos e sem sanções, como era de prever. Um dos equívoco foi o do plano B que não era para haver e afinal houve: medidas adicionais de 0,25% do PIB (cerca de 466 milhões de euros) e outras, se necessárias para atingir o défice de 2,5% em 2016, as quais poderão ser reforçadas quando for apresentado em 15 de Outubro o relatório da CE (ver aqui as recomendações da Comissão ao Conselho).
A parte mais divertida do plano B é dado pelo espantoso título do Público, normalmente um veículo da propaganda da geringonça: «Comissão elogia promessa de mais austeridade que Governo garante que não fez». É claro que os factos não são um obstáculo para o ilusionismo de Costa que logo a seguir à aprovação das recomendações da Comissão twitou «Não há novas medidas».
Outro equívoco foi o de que, com a sua ausência, ficou claro terem as sanções pouco a ver com os défices do passado e muito mais com o OE 2016. E, por falar em défices do passado, repare-se a suprema ironia de a mesma geringonça que acusou o governo anterior de um défice de 2015 superior a 3%, devido ao resgate do Banif, se ter regozijado com a frase das recomendações do Conselho a respeito do défice de 2016 «this target does not include the impact of the direct effect of potential bank support», que lhe permitirá não incluir para efeitos do objectivo do défice os n mil milhões de resgate da Caixa. É um misto de insulto à inteligência e arrogância associada à auto-atribuída superioridade moral da esquerdalhada.
Outra farsa em exibição há meses em S. Bento com muito sucesso é a da execução do orçamento que não podia correr melhor. segundo a versão oficial secundada pelo exército de jornalistas de causas e opinion dealers ao serviço da geringonça. Com um ignorância de uns e falta de vergonha de outros, esta tropa fandanga passa ao lado da execução louvada ser em contabilidade pública e a que interessa para Bruxelas é em contabilidade nacional, escamoteia a maquilhagem das contas com o empurrar das facturas com a barriga, com as cativações, e last but not least com a redução de 14% do investimento público que o ano passado tinha aumentado 20%, investimento público que a geringonça incensou antes de o sacrificar no altar da realidade da derrapagem orçamental.
E o que dizer de partidos que criticaram violentamente o aumento de carga fiscal da responsabilidade do governo anterior (que, já agora, poderia ter sido evitado se a despesa pública fosse drasticamente contida o que desencadearia ainda maiores indignações) e mantêm de Conrado o prudente silêncio perante um novo aumento, ainda mais evitável, que resulta da receita fiscal ter crescido 3% no primeiro semestre.
Em linha com as previsões já conhecidas do FMI, do Barclays e da Católica-Lisbon entre 0,7% e 1%, para 2016, para 2017 entre os 0,3% e 1,1% e para 2018 que não ultrapassam os 1,5%, o Business Insider publica uma peça cujo título é um bom resumo: «People are starting to get seriously worried about the looming crisis in Portugal». O diagrama que reproduzo é muito esclarecedor e a foto que ilustra o artigo também.
Prosseguindo a sua política de re-fazer, com vários propósitos, no caso a criação de mais lugares para os seus boys, a geringonça revogou o regime de acumulação de funções dos membros da administração das empresas de transporte de Lisboa. Metropolitano de Lisboa, da Carris e da Soflusa, revogação prontamente promulgada pelo presidente Marcelo.
O folhetim da Caixa continuou com a audição na comissão de inquérito de várias sumidades - vale a pena ler os destaques das respostas de José de Matos, uma das vítimas da azelhice do governo PSD-CDS e dos golpes da geringonça. O Expresso incluiu nas suas promoções da geringonça os anúncios de aprovação pelo BCE e pelo DGComp da recapitalização e da administração. Veremos se isso será mais do que os anúncios de 2011 de que «o FMI já não vem». A administração com os seus 19 membros faz lembrar a equipa técnica da selecção nacional, com o Sporting substituído pelo BPI de onde provêm 5 dos 7 membros executivos. Entre os 11 restantes não executivos encontramos 7 administradores de empresas clientes actuais ou potenciais da Caixa e 8 sem qualquer experiência de banca. Terão ouvido falar de conflitos de interesse? Sem menosprezar a capacidade da geringonça fazer asneiras e manobras, direi por agora que é difícil fazer pior.
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