Outras avarias da geringonça.
O programa de governo tinha como objectivo a redução de 10 mil utentes da vaca marsupial pública. No 1.º trimestre, no mundo real, a geringonça engordou a vaca com mais 3.731 utentes - o maior aumento nos últimos quatro anos. Reconheça-se que o governo anterior, fazendo jus ao seu cognome de «neoliberal» já tinha aproveitado a saída da troika para aumentar no ano passado 1.707 utentes. Para cumprir o seu programa o governo teria até ao fim do ano de alijar 13.731 utentes.
Segundo o Público, «mais de 80% do acréscimo de trabalhadores referem-se a contratos a termo de médicos, enfermeiros e professores». Não tendo aumentado o número de utentes do SNS e tendo diminuído o número de alunos este órgão oficioso não explica os porquês. Também não seria preciso porque todos sabemos: é o primeiro resultado das políticas socialistas de criação de emprego.
Entretanto, continua a saga das 35 horas com Costa a dizer todos os dias coisas diferentes que têm de comum começarem pela expressão «como eu sempre disse», Centeno a dizer outras coisas e o resto da geringonça a fazer ameaças. Para dar credibilidade às ameaças, os comunistas mostram o pau na mão dos sindicatos dos utentes que vão dizendo «sete meses de Governo e, apesar das muitas promessas, o PS não tomou qualquer medida para melhorar a situação dos trabalhadores. Estamos fartos de promessas! É hora de agir!» Comunistas e berloquistas entram em choque com o governo, mas no final tudo se recompõe.
O ministro Vieira da Silva revelou-nos ter descoberto uma solução de financiamento da segurança social «não no sentido do aumento da carga fiscal». A coisa segundo ele passa por aumentar o IRC. É uma bela demonstração da criatividade socialista.
No campo da educação, o ministro compensa os tiros nos pés que tem dado com o anúncio que será criado já em Setembro «uma nova ferramenta»: tutores que ajudarão alunos com duas ou mais retenções (em dialecto PC significa reprovações). É uma boa medida por duas ordens de razões. Primeira, aumenta as vagas para utentes da vaca marsupial pública; segunda, é mais um passo para o Estado Sucial fazer o papel dos pais. [Aditamento: afinal esta nova ferramenta já tinha sido inventada há mais de 10 anos - leia-se «O Papel do Tutor na Orientação Educativa e Gestão da Diversidade»]
É já uma rotina. Mais um relatório do Conselho de Finanças Públicas sobre o PEC, mais dúvidas sobre de onde vêm 2 mil milhões de euros de medidas da consolidação orçamental, entre 2017 e 2020. Bem dizem os socialistas, o CFP é um antro de conspiração. O Insurgente, outro antro de conspiração, escreve que «o PEC é em suma uma fraude, um logro, um embuste; não só quanto ao futuro, mas também quanto ao passado».O doutor Cavaco quando era primeiro-ministro queixava-se que o Tribunal de Contas não o deixava governar, a geringonça, sempre à frente do seu tempo, começa logo a queixar-se na fase das projecções o que, pelos vistos, não a impede de modificar o passado, talvez recordando a lição de Orwell em «1986»: «quem domina o passado domina o futuro: quem domina o presente domina o passado».
Pelos lados de Bruxelas, a sarna que a Comissão tem para se coçar com refugiados, Turquia, pré-falência grega, ameaças russas, etc. não lhes deixa tempo para se preocupar com a geringonça e parece disposta a trocar mais um ano de défice excessivo por mais «austeridade» este ano. É uma troca um bocado estúpida, mas eles lá sabem.
Um dos prenúncios dos amanhãs que cantarão é o aumento do endividamento das empresas públicas não-financeiras que só em Março atingiu a bela soma de 1,6 mil milhões de euros.
Para não pensarem que só aponto coisas negativas, foi a semana passada apresentado o Simplex 2.0, um conjunto de 255 medidas das quais para cima de 200 são para encher o olho e fazer número. As outras fazem sentido e são bem vindas. A esse respeito o que posso dizer é quase o que disse WS, a propósito das confusões de Beatriz e Benedito em Messina: tanto barulho para tão pouco.
Quanto à geringonça, a coisa promete durar, apesar dos arrufos ocasionais entre os parceiros da ménage à trois (à quatre ou à cinq se incluir-mos o apêndice comunista verde e o partido dos animais). Jerónimo de Sousa ameaça com o «carácter limitado da actual solução política» mas a coisa conserta-se se lhe derem mais espaço para os sindicatos comunistas nos transportes públicos ou forem aos bolsos do «grande capital». Comunistas e berloquistas arrufam-se a propósito do glifosato, mas não será nada de muito tóxico.
Para terminar por esta semana, Costa já teve uma primeira demonstração do «catavento de opiniões erráticas» em acção, quando o presidente Marcelo em público lhe aponta o «optimismo crónico e ligeiramente irritante» e lhe pede para ter «os pés assentes no chão». Habitue-se.
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