Outras coisas que outros escreveram.
Por alguma razão do domínio do oculto, Miguel Sousa Tavares, nunca tendo escondido a sua simpatia por José Sócrates, cultiva por António Costa uma antipatia visível. Reconheça-se, porém, que se a sua simpatia pelo primeiro mostrava uma desconcertante miopia, a sua antipatia pelo segundo evidencia uma louvável lucidez, Eis o que escreveu na sua última crónica no Expresso:
«Costa já mostrou que é um notável malabarista, capaz de dançar sobre um fio de arame e um fosso de leões. Caminha por pequeno~ passos, para a frente e para trás, sem preocupações em chegar ao fim são e salvo mas apenas em ir-se mantendo em cima do arame, um dia atrás do outro. António Costa é um extraordinário tacticista, um notável negociador, um temível jogador de xadrez. Mas jamais será um estadista: tem demasiada política dentro de si, demasiada conjuntura, demasiada habilidade para tal. A impensável coligação de poder que ele inventou a partir de uma derrota eleitoral é alimentada dia a dia por pequenas mentiras, pequenas recompensas, pequenos avanços e recuos que a vão mantendo a flutuar, com a ilusão, em que só os distraídos poderão acreditar, de que se está a governar. Porém, tal como Penélope e para manter os seus vassalos em eterna expectativa, ele, de facto, não governa, finge governar: desfaz de noite o que fez de dia, promete em Bruxelas o que garante não ir fazer em Lisboa. Com isso, ganha tempo, na espera do regresso do seu Ulisses. No horizonte, ele perscruta ansiosamente sinais de uma retoma económica vinda de fora que possa milagrosamente vir salvar o que resta das suas promessas eleitorais.»
Sem comentários:
Enviar um comentário