[Continuação de (1)]
«No segundo caminho, a acumulação do capital pelo Estado não se pode obter pelo estímulo da concorrência, mas só por uma disciplina rigidamente imposta com a ajuda de um aparelho policial eficiente. Obrigam-se os trabalhadores a produzir mais e a consumir menos, aniquilam-se os obstáculos a esta disciplina militar, a começar pelas liberdades públicas. Teoricamente é um caminho, na prática é duvidoso que ele leve ao resultado procurado. Os resultados da economia de Estado na Rússia, apesar da faraónica repressão estalinista, deixam muito a desejar quando comparados com os da Norte-América, os da Suécia, os da Alemanha, os do Japão. No mesmo período de tempo, Cuba, que aliás antes de Fidel Castro não tinha propriamente um sistema capitalista nacional, não conseguiu realizar, sob a ditadura castrista, grandes progressos económicos; basta dizer que neste país se mantém há muitos anos o racionamento, e que ele não conseguiu arrancar-se ao atoleiro da monocultura do açúcar, característica de países colonizados. E não falamos já dos países chamados do Terceiro Mundo que adoptaram o modelo da economia de Estado sem daí retirarem qualquer benefício económico, a não ser o que lhes advém do crescimento do mercado mundial capitalista.
Em particular no que respeita à agricultura, este sistema não conseguiu acompanhar, antes pelo contrário, o desenvolvimento que se verificou nos EUA, no Canadá, na França, na Alemanha (apesar de devastada pela guerra). Os resultados da colectivização foram trágicos na Rússia, que só na década de 60, com uma população muito maior, voltou a atingir os níveis de produção de 1917, que já de si eram baixos. De exportador que era, este país tornou- se grande importador de trigo, especialmente da América.
De forma que o sacrifício das liberdades públicas não tem no sistema de economia de Estado compensação correspondente. E se a economia é administrada em proveito de um grupo incapaz ou corrompido que lançou mão ao leme do Estado, os trabalhadores não têm meios para se defender, pois em tais regimes não lhes é reconhecido o direito de greve, ou o de votarem num partido oposto ao do Governo. Resta-lhes só o caminho da insurreição, quase sempre reprimida a tiro , como sucedeu na Hungria, na Checoslováquia, na Polónia , na Alemanha chamada democrática (revolução operária de 1956).»
«Os três caminhos», capítulo de «Filhos de Saturno», de António José Saraiva (publicado originalmente no Diário de Notícias de 01-06-1979)
(Continua)
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