23/10/2013

Pro memoria (141) - Autópsia de uma entrevista do «chefe democrático que a direita sempre quis ter»? (I)

Não sei o que mais admirar na entrevista a José Sócrates do Expresso do passado sábado. Se mais um exemplo extremo da audácia lendária na produção de mentiras e meias verdades, que são mentiras eficazes («a mentira para ter alcance e profundidade, tem que trazer à mistura alguma verdade», poeta Aleixo), se a falta de decoro na ostentação de uma erudição postiça, se a falta de educação na grosseria, no insulto e na bazófia. Ou se o patente fascínio da entrevistadora Clara Ferreira Alves pela criatura, que a faz suportar com brio a torrente de insanidades sobre ela despejada, se a disponibilidade para plantar deixas no meio dessa torrente, se a tolerância pela erudição postiça ou pela falta de educação, se a dualidade de critérios de julgamento que usa para quem detesta e para quem cultiva, como é o caso de José Sócrates, que parece ter herdado o béguin da entrevistadora por Mário Soares, que ultrapassa o que se esperaria da doutrina Somoza.

Vale a pena gastar cera com este ruim defunto? Talvez valha, quando se sabe que ainda hoje uma percentagem apreciável dos portugueses suspira pelo regresso da criatura que nas vésperas da sua demissão ainda apresentava percentagens surpreendentes de opiniões positivas pela sua obra que à época, isto é Abril de 2011, se poderia assim resumir:
  • Maior desemprego dos últimos 90 anos;
  • Maior dívida pública dos últimos 160 anos;
  • Mais baixo crescimento económico dos últimos 90 anos;
  • Maior dívida externa dos últimos 120 anos;
  • Mais baixa taxa de poupança dos últimos 50 anos;
  • Segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos.

Grosserias

Comecemos pelas grosserias que escaparam pelas fendas do verniz de sujeito culto e civilizado. Alguns exemplos:
  • «Aos idiotas que andaram apaixonados por coisas que tiveram de negar faz-lhes muita impressão um tipo que sempre foi a merda de um moderado!»
  • «Aqueles gajos que se achavam a aristocracia pensavam que eu tinha que ir lá pedir, pedir se podia, pedir autorizações. E eu pensei, raios vos partam, vou vencer-vos a todos!»
  • «Eu estou-me a borrifar para o que possam pensar!»

Insultos
  • «E assinado JSD, sempre a mesma técnica. Os pulhas!»
  • «… era isso que ele (Santana Lopes) queria. O bandalho!»
  • «A partir do momento em que um traste de um político invoca a razão de Estado para pôr em causa a Constituição e a lei» «… com aquele estupor do ministro das Finanças, o Schauble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias nos jornais contra nós.»
  • «Houve uma intervenção manhosa do primeiro-ministro da Holanda, e eu, muito irritado, até lhe pedi que ele dissesse quanto é que Portugal lhe devia, porque não estava para ficar-lhe a dever um tostão nem aturar-lhe o calvinismo reles.»
  • «Os filhos da mãe da direita em Portugal…»
Por esta altura, convirá recordar que o político que assim exprime juízos insultuosos sobre outros políticos europeus, foi primeiro-ministro de dois governos de um país que ele contribuiu decisivamente para levar à bancarrota e que está a ser financeiramente assistido pelos países a quem ele insulta políticos em exercício.

E ademais, o mesmo político que insulta esses políticos europeus mostrou pública admiração e privou com óbvio gosto e muito para além das estritas obrigações diplomáticas com figuras como Kadhafi ou Chávez.

Continua: com deixas da entrevistadora para o entrevistado brilhar, evasões e contradições, ridicularias, meias-verdades e mentiras.

3 comentários:

  1. Uma ingénua interrogação : "What makes Sammy run?"...
    E a "entrevistadora"...
    E o pasquim veicular...
    E ninguém vai preso...

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  2. só por ter visto aquele gang todo reunido a carpir mágoas esta tarde, até perdoo aos que agora estão no poleiro...

    neves

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  3. O que mais me intriga, é como um tipo destes consegue chegar a primeiro ministro, mesmo vindo do PS.
    Não entendo.

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