09/06/2013

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «A esquerda no seu labirinto»

«A esquerda adora atacar o governo de direita, quando está na oposição. Quando chega ao governo, a que chega, faz exatamente o mesmo que antes criticava. Usa o poder em seu proveito, alimenta as suas clientelas, com aquela suposta legitimidade de quem pensa que a esquerda representa o povo, queira o povo ou não.


A esquerda ama atacar a economia de mercado, quando não pode participar dela. Quando pode, isto é quando tem o poder, torna-se amiga dos empresá­rios, sobretudo dos grandes, muito amiga dos banqueiros e de todos aqueles que supostamente integram a economia de mercado. Tão amiga, tão amiga, que coloca o Estado a proteger os seus novos amigos, não vão eles constipar-se nos negócios.

A esquerda excita-se quando ataca o capitalismo, sobretudo o selvagem, quando não pode beneficiar do mesmo. Quando isso acontece, ou seja quando é governo, participa alegremente na festa capitalista, promovendo negócios e negociatas. Deslumbra-se com o acesso aos donos do dinheiro e não hesita em usar o Estado para lhes satisfazer as vontades, coisa, aliás, que os donos do dinheiro também adoram.

Esta esquerda está de novo em movimento. Conduzida por num octogenário especialista na matéria toma a sua vontade como lei, contrariando a lei que efetivamente existe. Para esta esquerda, quando lhe convém, a rua vale mais do que as urnas, as banalidades oratórias pesam mais do que a constituição, a sua vontade é mais importante do que a vontade dos portugueses. Na cartilha da esquerda a vanguarda interpreta melhor a vontade do povo do que o próprio.

Para onde nos quer conduzir esta esquerda? Para lado nenhum. O que é sinónimo de desgraça. Não tem projeto, não tem programa, não tem ideias. Esta é uma esquerda tão velha como o seu líder, que repete chavões e lugares-comuns, incapaz de compreender o tempo que temos e o que há de vir. Desde a chamada "terceira via" que a esquerda não traz nada de novo ao debate político. Tornou­-se uma gestora ocasional pragmatismo reinante na Europa.

Basta olhar para a França e para a Grécia onde a esquerda está no poder (na Grécia em coligação com a odiada direita). O senhor Hollande tem uma das mais baixas taxas de popularidade de todos os Presidentes franceses e está a fazer o contrário de tudo aquilo que prometeu n campanha eleitoral. Na Grécia, esquerda despede funcionários públicos, corta salários e privatiza a eito.

Eis o que a esquerda tem para oferecer. A realidade não se com bate com retórica. Uma coisa é reunir velhos e novos combatentes de uma causa perigosamente utópica, outra é resolver problemas

Luís Marques, no Expresso

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