09/06/2013

SERVIÇO PÚBLICO: Gestão de tesouraria socialista vs «neoliberal»

A propósito do pagamento dos subsídios de férias e de natal, o governo em determinada altura meteu os pés pelas mãos e parecia pretender que o subsídio de férias fosse trocado com o de Natal que estava a ser pago em duodécimos. Tratar-se-ia, segundo os teóricos da conspiração, de um expediente para fintar a falta de dinheiro, adiando de Julho para Dezembro o pagamento do subsídio de férias à boleia da mudança de nome.

Não faço ideia qual seria o propósito do governo, mas interessei-me por saber se a falta de dinheiro seria um motivo plausível - para mim nada evidente, por razões que me poupo a explicar. O gráfico seguinte mostra claramente várias coisas que comprometem essa teoria.



Em primeiro lugar, confirma que a tesouraria socialista estava à beira da ruptura no final do 1.º trimestre de 2011 e que foi essa iminência que retirou a margem a Teixeira dos Santos para enfiar outra vez o problema para debaixo do tapete, como andava a fazer há muitos meses, e o forçou a encostar José Sócrates às cordas e obrigou este a lançar a toalha ao chão pedindo a intervenção da troika. O Memorandum of Understanding foi negociado (digamos assim para simplificar) em Abril e Maio e é assinado a 17-05-2011. O governo «neoliberal» toma posse a 5 de Junho e a primeira tranche do empréstimo chega nesse mês, escassamente a tempo de cobrir mais de meia dúzia de mil milhões de euros de pagamentos previstos para os quais não havia dinheiro. É a entrada dessa 1.ª tranche que explica o salto no saldo de caixa no final do 2.º trimestre de 2011.

Desde então, os saldos da responsabilidade de Vítor Gaspar têm estado sempre acima dos 10 mil milhões, sendo suficientes para mais de um mês de pagamentos - as barras a verde representam o n.º de dias de despesa com base no trimestre em causa que o saldo permitiria cobrir. Esta conclusão retira obviamente qualquer fundamento à mencionada teoria da conspiração – sendo certo que a falta de fundamento destas teorias nunca será um obstáculo para os crentes as cultivarem cuidadosamente nas suas meninges.

Morais da estória:
  • A gestão de tesouraria «neoliberal» dá 5 a 0 (é essa a relação entre a média dos dias de despesa que os saldos permitem cobrir) à gestão socialista;
  • Qualquer teoria da conspiração que comprometa o governo «neoliberal» não carece de demonstração e é automaticamente adoptada por luminárias e senadores do regime e pelo resto da oposição e, de seguida, por uma legião de patetas;
  • A dificuldade do governo desmistificar estas teorias da conspiração pode dever-se a andarem muito afobados a escrever o guião/argumentário da reforma do Estado.

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