02/08/2012

SERVIÇO PÚBLICO: Para onde foi o IVA?

A propósito da quebra na arrecadação de IVA, parece haver uma grande inquietação nos meios opinativos, sobretudo depois da Unidade Técnica de Apoio Orçamental ter acentuado que a receita dos impostos indirectos no 1.º semestre foi 9,9 contra 10,5 mil milhões de euros no 1.º semestre de 2008 quando à taxa de IVA era de 21%. Isto é, verificou-se uma redução de 6,6% quando, se a base de incidência se tivesse mantido, a arrecadação de IVA teria aumentado cerca de 9,5%. A questão é, pois, para onde foi o IVA?

Assumindo simplificadamente que a arrecadação de IVA está em linha ceteris paribus com o consumo privado e fazendo umas contas de merceeiro mostradas no quadro seguinte, pode concluir-se que 70% da redução do IVA no 1.º semestre deste ano é explicada pela redução do consumo e 30% (199,1 milhões) possivelmente por acréscimo de evasão fiscal.


Em conclusão:
  • Grande parte do IVA não fugiu para lado nenhum – simplesmente nunca poderia ter sido arrecadado;
  • Não se percebe porque o governo não antecipou a queda da arrecadação em função da redução prevista do consumo porque, mesmo sem acréscimo de evasão, teria havido sempre uma redução significativa;
  • A única explicação para quebra do IVA ser aparentemente um fenómeno surpreendente para o governo, para a oposição e para os comentadores encartados, deve ser o que costumamos chamar aqui no (Im)pertinências a maldição da tabuada;
  • Nem tudo são más notícias porque, ao mesmo tempo que o consumo interno em 4 anos se reduziu mais de 6% a preços correntes, o consumo externo aumentou da mesma percentagem;
  • Sem esquecer que alívios da carga fiscal, ainda que involuntários, são sempre bem-vindos porque representam dinheiro que ficou nos bolsos dos cidadãos e que eles aplicaram certamente muito melhor do que a torrefacção estatal.

1 comentário:

  1. Caro Blogger,

    Muito obrigado por partilhar a sua visão. A sua análise é muito interessante.
    Veja se este meu raciocínio está correcto: uma vez que houve uma reestruturação das taxas de IVA, com produtos a passar das taxas mais baixas para as mais altas, o aumento da receita por via do aumento das taxas, mantendo a base de incidência, não deveria ser superior a 9,5?

    Um abraço,
    João

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