Por diversas vezes (a última das quais aqui) se tocou no (Im)pertinências o tema do risco de atacar a falta de liquidez com uma política monetária agressiva, nos EU como na UE, a mesma política que os EU, sob os auspícios de Greenspan, praticaram durante uma década para fintar os vários episódios de recessão. Chegámos aonde chegámos a cavalo do dinheiro estupidamente barato resultante dessa política e, claro, da sua abundância resultante da aplicação dos superavit do comércio externo chinês e dos fundos soberanos árabes.
Ao utilizar até ao limite a medicina que concorreu para a doença, as taxas de juro a aproximam-se de zero e empurram-nos para a «armadilha da liquidez» sobre qual escreveu Krugman há dez anos, a propósito do Japão (quando ainda não era um blogger agit-prop). Como política alternativa ou complementar poderá invocar-se o keynesiano de pacotilha e enveredar por obras públicas à pressão, com a limitação dum período longo necessário para investimentos significativos, período dificilmente compatível com a urgência das medidas. E, adicionalmente, suportando as consequências do aumento dum endividamento já elevado e os custos financeiros daí resultantes. Por isso, os EU já puseram a rotativa a funcionar para afogar com dinheiro fresco a falta de liquidez. Pelo caminho fica a política fiscal que, para ter efeitos significativos, seria dificilmente compatível com a abordagem keynesiana sem um aumento explosivo do défice orçamental.
Salvo o pensamento liberal principalmente blogosférico (chamemos-lhe assim, para simplificar), a economia mainstream não se tem mostrado muito preocupada com estas terapias. Com pouquíssimas excepções, como a de Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, que escreveu no OJE um artigo sugestivamente intitulado «A próxima bolha».
Nesse artigo Cristina Casalinho alerta para o «que poderá constituir uma nova bolha: subida sustentada e generalizada dos preços: ou seja, caminhamos para a bolha final. No seu rebentamento, arriscamo-nos a ter sempre de enfrentar ritmos de crescimento baixos. Está-se a abrir a porta a uma solução radical, que depois da década de 70 se jurou não voltaria a ser adoptada.»
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