Como se pode confirmar nos posts anteriores, o tema das patentes é um mais dos usados pelas figuras de cera e a comentadoria do regime, e evidentemente pelo jornalismo de causas, para exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e o correspondente sucesso, talvez só superado pelo futebol, tentando compensar o profundo complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.
Vejam-se, por exemplo, os seguintes dois dos muito títulos exaltantes que se seguiram à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023: «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» (Público) e «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» (Observador). Se os títulos são exaltantes os textos não o são menos.
A realidade que os dados estatísticos objectivamente revelam nada tem de exaltante, se queremos adjectivar, deprimente seria mais adequado. Desde logo, porque os 329 pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a 0,38% e 0,17% do número total de pedidos dos 39 países do EPO e do número total de países, respectivamente. De seguida, porque o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes nos colocam no 38.º lugar do ranking (terceiro a contar do fim) dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.
Esquecendo que quem parte de um nível muito baixo, como Portugal, sempre pode progredir muito mais rapidamente do que quem já tem um nível elevado, ainda assim, o número de patentes portuguesas pedidas representava 0,07% do total em 2014, cresceu para 0,15% em 2019 e desde então variou entre 0,14% e 0,17%. Se considerarmos apenas os pedidos de patentes que são aceites, o rácio de aceitação entre 2014 e 2023 nunca atingiu metade, e se o número de patentes aceites aumentou mais de 100% de 2022 para 2023, isso deveu-se ao número anormalmente baixo de 2022 que foi pouco mais de metade do de 2021.
Moral da estória: é difícil ter uma opinião pública esclarecida quando se tem uma opinião publicada (sim, o que se publica não são notícias) deste calibre.
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