Continuação de (1)
A divisão esquerda-direita é uma grosseira simplificação, como qualquer observador atento com um módico de capacidade de análise e de independência de espírito poderá ter observado. É uma distinção que tem origem histórica num simples acaso dos adversários e dos adeptos do direito de veto do rei Luís XVI na assembleia constituinte se terem sentado respectivamente à esquerda e à direita do presidente da assembleia. Se os mesmos deputados se tivessem sentado abaixo e acima, respectivamente, do presidente da assembleia, designaríamos hoje essas categorias ideológicas como os "de baixo" e os "de cima", o que seria talvez mais apropriado.
Certamente que a representação geométrica que mais se adequaria a caracterizar o espectro das opiniões político-ideológicas seria uma geometria não euclidiana ou, vá lá. um espaço tridimensional o que, podendo ser insuficiente para representar a complexidade desse espectro, seria possivelmente excessivo para mentes unidimensionais. Por isso, as duas dimensões são um equilíbrio aceitável entre as exigências do rigor e as dificuldade de abstracção dos humanos e não é por acaso que na prática as usamos até em trabalhos científicos.
Political Compass |
O diagrama acima é uma representação a duas dimensões, a dimensão económica, em que as atitudes perante o mercado e o Estado são determinantes, e a dimensão social, que se refere ao dualismo colectivismo-individualismo. Com esta representação, ainda que seja também uma simplificação da realidade, é possível compreender melhor o espectro político-ideológico e perceber, por exemplo, porque há pessoas de direita mais liberais do que as de esquerda e pessoas de esquerda mais simpatizantes do autoritarismo do que as de direita.
Há uns anos, Political Compass exemplificou a posição de várias figuras públicas no diagrama acima e tentou explicar algumas confusões que continuam bastante comuns.
«A compreensão usual do anarquismo como uma ideologia de esquerda não leva em conta o "anarquismo" neoliberal defendido por nomes como Ayn Rand, Milton Friedman e o Partido Libertário da América, que partilha uma visão económica de direita com posições liberais na maioria das questões sociais. Frequentemente, os seus impulsos libertários não chegam a opor-se a fortes posições no que respeita à lei e à ordem e são mais económicas em substância (ou seja, sem impostos), portanto não são tão extremamente libertárias como são de extrema direita. Por outro lado, o clássico colectivismo libertário do anarco-sindicalismo (socialismo libertário) situa-se no canto inferior esquerdo.Na nossa home page demolimos o mito de que o autoritarismo é necessariamente "de direita", com os exemplos de Robert Mugabe, Pol Pot e Estaline. Da mesma forma, Hitler, do ponto de vista da economia, não era um extremista de direita. As suas políticas económicas eram grosso modo keynesianas e à esquerda de alguns dos partidos trabalhistas de hoje. Se pudéssemos sentar à mesma mesa Hitler e Estaline e evitar a economia, os dois obstinados autocratas encontrariam muitos pontos em comum.»
Faltou apenas um dado importante, que é o posicionamento dos partidos portugueses na "bússola política".
ResponderEliminarPartilho aqui esse posicionamento de acordo com o "Votómetro do Observador" para as Legislativas de 2022:
Resultado Votómetro Observador 2022