Confesso que não me apercebi do incêndio que se propagou nas redes sociais (que não frequento) a pretexto de uma "influencer" que reconheceu ter dado um banho de água fria ao seu rebento para acabar uma birra. Não vou discutir o mérito do método da "influencer" - no meu caso talvez tivesse optado por um método de pediatria moderna (*) - vou apenas aproveitar o caso para citar Henrique Pereira dos Santos (HPS) que a propósito da solução da retirada da criança à mãe para entregá-la aos cuidados do Estado, proposta por inúmeros imbecis (que HPS, com infinita indulgência, concede poderem ser «pessoas razoáveis e aparentemente sensatas»), escreveu umas linhas sobre o papel das famílias na educação que não resisto a transcrever.
«As famílias são uma coisa péssima: é onde se verifica a esmagadora maioria dos abusos sexuais, é o único sítio onde existe violência doméstica, é onde as tensões entre as pessoas podem ter raízes mais profundas e explosões mais perigosas e muitas e muitas outras coisas que se poderiam dizer sobre as famílias.
O problema é que para educar, socializar crianças, cuidar de bebés - esquecemo-nos frequentemente de como as nossas crias são incompetentes, ao contrário de um potro que corre num prado ao fim de umas horas do seu nascimento, as nossas crias são praticamente "fetos externos", não vêem grande coisa, não se aguentam nas canetas durante um ano, ouvem mal, não sabem procurar comida, meses depois do nascimento não sabem rigorosamente nada do que sabe a generalidade das crias das outras espécies ao fim de umas horas de vida - ainda não encontrámos mecanismo social mais eficiente que este de nos juntarmos em famílias.
Mesmo sabendo que sendo as pessoas imperfeitas, é difícil que sejam capazes de fazer famílias perfeitas, juntando pessoas não só imperfeitas, mas com imperfeições diferentes entre si.
Com séculos, milénios de demonstração, fico estupefacto com a facilidade com que vejo gente, ao mínimo percalço de educação de uns pais, defender que a solução é entregar as crianças ao Estado, essa entidade carinhosa, próxima, razoável, justa, sensata, atenta, serena e etc., que sem dúvida consegue garantir que nenhuma criança a seu cargo alguma vez toma um banho forçado a temperaturas abaixo de 35 graus centígrados.»
(*) Faz muitos anos, quando se começaram a divulgar os "ensinamentos" da pediatria moderna (os meus filhos foram da geração Dr. Spock, não o da Star Trek, mas o pediatra Benjamin McLane Spock), contava-se a estória de uma criança que fazia uma birra imensa junto à montra de uma loja de brinquedos exigindo à mãe, que mal tinha dinheiro para comer, que lhe comprasse um brinquedo caríssimo. Quando alguém se aproximou da mãe, lhe disse que era um pediatra moderno e lhe perguntou se queria que falasse com o birrento, ela deu graças ao Senhor pela inesperada ajuda e aceitou. O pediatra moderno disse meia dúzia de coisas ao ouvido da criança e esta imediatamente se voltou para a mãe dizendo-lhe que já não queria o brinquedo. A mãe curiosa, deixou que o pediatra moderno se afastasse e perguntou ao rebento o que ele lhe tinha dito, ao que o rebento respondeu: «para já com essa birra, ou dou-te uma valente nalgada».
Não imagina o que o seu " * " mez fez rir!
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