24/06/2023

A arte de bem titular toda a notícia (6) - É comovente a comunhão de ideias do governo e da imprensa do regime


É uma espécie de mimetismo. Às 23.30 de quinta-feira o jornal Negócios dá a "notícia" de que a «portaria de condições do trabalho para trabalhadores administrativos, é assinada por oito ministros, e decide de forma administrativa os salários mínimos que se aplicam potencialmente a 94 mil trabalhadores que não estão cobertos por negociação» e quase todos os outros a repetem com títulos praticamente iguais que induzem nas meninges dos leitores que o governo irá pagar do bolso dos seus ministros a quase 100 mil trabalhadores do "privado", como eles dizem.

Ninguém explica e contextualiza a "notícia", esclarecendo que estamos perante um expediente chamado "portarias de extensão", pelo qual os contratos colectivos negociados pelos sindicatos (controlados pelo PCP) que representam 10% dos trabalhadores têm influenciado 90% dos contratos de trabalho, em empresas e sectores sem condições para pagarem a bitola das maiores empresas e continuarem competitivas. Por esta via, a concertação social tem tido principalmente o papel de defender os «direitos adquiridos» das corporações empresariais e sindicais, aumentar o desemprego e assim manter o statu quo.

Em Outubro de 2012, por pressão da troika, as portarias de extensões passaram a ter um alcance mais limitado que foi resposto em Abril de 2014. Ler aqui o que Ricardo Reis escreveu em Novembro de 2021 sobre este tema. 

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