É claro que seria tolice negar que o endurecimento do confinamento a partir de 15 de Janeiro teve influência no decréscimo do número de novos casos a partir daí. Contudo, como em todos os fenómenos desta natureza, há um conjunto de causas que interagem entre si e explicam o resultado final.
Não é preciso ser uma autoridade neste campo para perceber que, nas circunstâncias concretas que ocorreram, o confinamento explica apenas uma parte dos efeitos e, em consequência, concluir, como aqui se faz, que não é «a causa da descida dos números», ou talvez mais rigorosamente não é a única, nem porventura a causa mais importante.
O que carece previamente de ser explicado é a inversão da tendência de redução dos novos casos, visível desde meados de Novembro, os quais atingem o mínimo precisamente por volta do Natal (seta verde do gráfico).
worldometers |
Depois de uma subida exponencial no início de Janeiro, o número de casos já estava em queda abissal menos de duas semanas após o início do estado de emergência mais rigoroso (seta vermelha do gráfico).
Em minha opinião, há dois factores críticos que explicam a alteração radical da tendência até Novembro: os contágios resultantes da proximidade familiar no período Natal-Ano Novo e a vaga de frio nas duas primeiras semanas de Janeiro (ver monitorização diária do IPMA). Uma vez enfraquecidos os efeitos destas causas o número de novos casos voltou ao nível de Novembro. Mesmo sem o reforço das medidas de confinamento, provavelmente o resultado não seria muito diferente.
Aditamento:
Já depois de escrito e publicado este post, vim a saber que, na opinião do Instituto Ricardo Jorge, «cerca de 69% da mortalidade em excesso é potencialmente atribuível à Covid-19 e cerca de 24% é atribuível às baixas temperaturas» e que «os dois fatores (...) potenciam-se».
Acho curiosa a violência com que as pessoas reagem só à hipótese de os confinamentos não terem tido os efeitos que elas esperavam. Vamos ter que esperar uns anos para ter uma visão imparcial sobre o que aconteceu nestes anos e uma melhor avaliação sobre os resultados dos confinamentos.
ResponderEliminarNão é preciso ser uma autoridade para entender a ambição humana de querer de tudo saber e de tudo controlar. "Sereis como deuses", disse a outra.
ResponderEliminarAgora, graças à facilidade de comunicação, percebe-se como andamos a naufragar em sabedoria menor. E, para cúmulo da vergonha, censuramos quem sabe.
Abraço