«Na hora de apresentar aos portugueses um primeiro esboço do programa de utilização dos €26,1 mil milhões, que terá de ser submetido à Comissão Europeia até ao próximo dia 15 de outubro, António Costa referiu-se apenas a €15,3 mil milhões, deixando escapar, quase entredentes, que Portugal não se candidataria aos €10,8 mil milhões que nos foram atribuídos a título de empréstimo. Portugal não quer empréstimos, só aceita fundo perdido. Razão invocada: a dívida pública portuguesa já é muito elevada. (...)
O primeiro-ministro de Portugal congratulou-se com os €750 mil milhões do Fundo de Recuperação mas, na hora de nos dizer de quanto dinheiro dispúnhamos, nunca incluiu os €10,8 mil milhões deste Fundo que nos foram atribuídos a título de empréstimo. Não mentiu. Tardou apenas algum tempo, e deu algum trabalho para que se tornasse claro. (...)
Com as contas mais equilibradas, o problema do excesso de dívida pública não desapareceu, vendo-se agora subitamente agravado pela crise económica e social provocada pela pandemia. O défice público está de regresso, e apenas em 2020 e em 2021, fazendo fé nas contas e nas projeções do Governo, o Estado Português terá dois défices que, somados, rondarão os €27 mil milhões, aumentando no mesmo montante a dívida pública. O Governo português recusa €10,8 mil milhões de empréstimo da UE porque está muito endividado, mas vai endividar-se, no mesmo período, em €27 mil milhões. Porquê? Porque os primeiros teriam de financiar investimento público e privado, acompanhado de reformas, enquanto os segundos financiarão consumo público, mesmo na parte em que este se vai ver aumentado, pese embora a enorme redução de receita. Algum deste aumento do consumo público não é estritamente indispensável e, em matéria de reformas, não haverá nenhuma.»
A verdade, como o azeite.... Daniel Bessa
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