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É possível uma democracia com uma sociedade fraca e dependente do Estado, e um Estado dependente de ajudas externas, ou por outra palavras: é possível uma democracia sem verdadeira autonomia dos cidadãos e da sua comunidade política? É possível uma democracia com um Estado ocupado há um quarto de século por um mesmo grupo partidário, sem perspectivas de alternância, a não ser em caso de catástrofe? É possível uma democracia onde o poder é sustentado por partidários confessos de ditaduras? É possível uma democracia com instituições minadas por suspeitas de amiguismo e de corrupção? É possível uma democracia onde décadas de estagnação económica e de constrangimentos financeiros tiraram qualquer relevância a propostas de governo alternativas? É possível uma democracia onde, por tudo isto que ficou dito, mais de 50% dos eleitores já não parecem acreditar que valha a pena votar? É possível uma democracia onde, com esse nível de abstenção, o governo pode perpetuar-se confiando apenas no voto fiel da minoria de clientes e beneficiários do poder, como nos regimes não democráticos do passado português?
E se uma democracia não é possível assim, como devemos chamar a um regime com estas características? Talvez que, por pudor ou à falta de melhor palavra, se lhe tenha de continuar a chamar “democracia”. »
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