«Nestas histórias, nos interstícios do desenho humano, entrevê-se um retrato de Portugal. De um lado um conjunto de funcionários que reclamam um estatuto de exceção, sem retribuição do demérito, carregado de privilégios instalados pelo tempo, o hábito, as clientelas dos partidos. No Estado coexistem dinastias inteiras, nas repartições, ou à sombra das autarquias. Pouca gente deste grupo deseja a mudança do Estado e do estado paralisado das coisas, ou deseja perder uma unha da sua vantagem. Do outro lado, os privados que carregam nas costas frágeis o peso do mundo. As pequenas empresas que são o tempero de uma economia saudável. Os que pagam mais impostos, os que não têm segurança no trabalho, os que pagam salários, os que investem o que ganham, os que arriscam, os que nada esperam de um Estado que os tributa, os pune e os esquece nas horas duras. Estes esperam uma austeridade que virá, sabem-se arredados de prebendas e fundos europeus, sabem que a insolvência espreita e acreditam que o trabalho é a salvação.»
Estou estupefacto, nunca pensei que a Clarinha pudesse ter articulado estas palavras!
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