10/05/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (15) - O que teria acontecido sem confinamento? (2)

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva e é continuação de O que teria acontecido sem confinamento? (1), em que se concluiu que os idosos tem uma letalidade muito mais elevada e os acolhidos em lares de idosos representam uma percentagem muito significativa do total de vítimas. Essa conclusão levou-nos à pergunta como explicar ser precisamente o grupo com maior letalidade o mais confinado?

Vejamos mais alguns dados sobre a letalidade da pandemia nos lares de idosos. O gráfico seguinte mostra o peso crescente das vítimas provenientes dos lares em Inglaterra e no País de Gales que só tardiamente começaram a ser incluídas nas estatísticas oficiais.

Spectator
O quadro seguinte da International Long Term Care Policy Network desfaz qualquer dúvida sobre o peso dessas mortes no total das vítimas e evidencia um fenómeno mundial.

Mortality associated with COVID-19 outbreaks in care homes: early international evidence
Pelo que já se conhecia da vulnerabilidade dos idosos, estes dados não surpreendem. Surpreendentes são as conclusões de um inquérito que abrangeu 113 hospitais durante 3 dias no Estado de Nova Iorque (onde a taxa de infecção é das mais elevadas em todo o mundo): dois terços dos casos infectados mais graves que necessitaram de hospitalização, estavam já confinados em casa antes de serem hospitalizados. Esse inquérito (fonte) permitiu ainda concluir:
  • 66% vieram das suas casas, 18% de lares de idosos e 4% de estabelecimentos de saúde assistidos. Uma proporção muito pequena eram sem abrigo ou tinham saído da prisão.
  • Os pacientes pesquisados tinham mais de 51 anos e eram aposentados, desempregados ou não.
  • Cerca de 96% deles tinham co-morbidades. Isso significa que quase todos foram diagnosticados com outra doença antes de serem infectados pelo coronavírus.
  • O COVID-19 afectou desproporcionalmente hispânicos e afro-americanos que vivem em Nova York.
Parece inevitável duvidar de uma estratégia de combate à pandemia baseada num confinamento indiscriminado com um custo económico tão elevado que desencadeará inevitavelmente uma profunda recessão.

Por isso, uma equipa de cientistas da universidade de Edinburgo propôe uma estratégia  de segmentação e protecção (Two-tier approach could begin lockdown end) aligeirando o confinamento das pessoas com menor risco (a maioria esmagadora da população activa) e limitando ao mínimo indispensável o contacto dos grupos de risco (grosso modo idosos e/ou pessoas com saúde debilitada).

(Continua)

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