24/05/2020

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: O Processo em Curso de Promoção da Literacia Mediática


«Em primeiro lugar, não vejo grande diferença na subtileza de ambos os caciques. Vejo diferença na eficácia. Falo por mim, e não, por exemplo, por Manuela Moura Guedes. Atravessei os anos “socráticos” a escrever num jornal e numa revista (de grupos distintos), disse o que me apeteceu acerca da miséria moral do “animal feroz” e nunca, nunca, nunca, sofri o mais leve reparo dos meus directores. Suspeito, e é apenas uma suspeita, de que os meus directores sofriam reparos de certas instâncias, a que não ligavam. Nesse período, eu até recebia convites ocasionais dos canais televisivos, que recusava porque raramente trabalho de borla. Certo é que 13 ou 14 meses após o dr. Costa tomar conta disto e iniciar o processo de venezuelização, em curso hoje acelerado, fui corrido de ambas as publicações, ignoro se por pressão externa, se por sabujice interna. Os directores em causa, bastante mais amestrados, não eram evidentemente os mesmos, e sim serviçais que não caíram do céu. O “eng.” Sócrates berrava às vezes em vão; o dr. Costa, espécime similar, berra e é escutado.

Em segundo lugar, os critérios de atribuição dos subsídios são claros. Há oito dias, o indivíduo que preenche a secretaria de Estado do “audiovisual” ou lá o que é, declarou: “Não adianta estar a promover a leitura de jornais se não fizermos simultaneamente a promoção da literacia mediática, isto é, da capacidade de qualquer cidadão, seja de que idade for, poder descodificar, compreender e ler de maneira clara os sinais do seu tempo”. Vinda de quem vem, a conversa fiada é inequívoca: o governo iria patrocinar as televisões, as rádios, os jornais e as revistas que transmitem diligentemente a propaganda oficial. Sempre que alguém se acha no direito de estabelecer o padrão ideal de os demais “descodificarem, compreenderem e lerem”, está a falar, de maneira escancarada, de fiscalização, manipulação e censura. Os “sinais do tempo” não enganam.»

Alberto Gonçalves no Observador

Sem comentários:

Enviar um comentário