A divulgação de dados sobre a distribuição da riqueza e dos rendimentos é sempre uma oportunidade para confusões por ignorância e por má-fé.
Desta vez, com a divulgação recente dos resultados do Inquérito à Situação Financeira das Famílias do INE, não foi excepção e podemos encontrar em diversos jornais a confusão entre riqueza, isto é o património das famílias, e rendimento, ou seja uma confusão entre um stock e um fluxo, equivalente a confundir o caudal de uma torneira que corre para um tanque o volume de água existente no tanque.
A divulgação desses dados é também uma ocasião para as lamentações ditadas por uma inveja secular que é dominante na cultura do Portugal dos Pequeninos e convenientemente sublimada pela ideologia igualitária da esquerdalhada.
De facto, como já por várias vezes referi, as análises de Geert Hofstede mostram os portugueses como um dos povos mais femininos do mundo e também um dos mais colectivistas, de onde a extrema sensibilidade à desigualdade (corolários: direitos adquiridos e progressão automática nas carreiras independente do desempenho) e a forte expectativa que o governo trate disso (corolários: tendência esquerdizante e preferência pelo nanny state). Isso mesmo ficou patente no Eurobarómetro «Fairness, inequality and inter-generational mobility» em que a «Percepção sobre as desigualdades de rendimento» mostram que os portugueses na UE28 são os mais sensíveis às desigualdades (apesar de Portugal não ser o país mais desigual) e os que mais esperam que o governo intervenha para as reduzir.
Mas a verdade é que não há assim tantas razões para a lamentação. Segundo os dados do INE, entre 2013 e 2017 a riqueza líquida média por família (é disso que se trata e não do rendimento) medida pelo valor de todos os seus activos (imóveis e financeiros) líquido das dívidas, aumentou 13,2% e a mediana (isto é o valor da riqueza que divide as famílias em dois grupos com o mesmo número) aumentou 10,0%. Por isso, não surpreende que a desigualdade medida pelo coeficiente de Gini tenha diminuido ligeiramente de 68,4% para 67,9% (0 corresponderia à igualdade absoluta e 100 à concentração numa única família de toda a riqueza).
Note-se que a redução da desigualdade dá-se na fase final da crise de 2011 o que contraria a tese muito popular entre a esquerdalhada e o jornalismo de causas que a crise e o governo de Passos Coelho agravaram as desigualdades. A este respeito, leia-se o post «A mitologia esquerdista do agravamento das desigualdades em Portugal durante o governo PSD-CDS» que deita por terra essa tese.
Para terminar a semana um muito bom Artigo Defunto.
ResponderEliminarExplicado, mas acima de «eco for nerds».
Abraço