02/09/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (203)

Outras avarias da geringonça e do país.

E quando se pensava que já tinha sido atingido o supremo descaramento, Costa volta a superar-se

Fui repescar o título deste e deste posts do outro contribuinte para classificar a entrevista também dissecada aqui de Costa ao semanário de reverência, cada vez mais a merecer o epíteto de Acção Socialista. A circunstância de, para além de algumas poucas almas, como Joaquim Aguiar e António Barreto, uns linces de Malcata liberais perdidos na blogosfera e os colunistas do Observador, pouca gente parece incomodar-se com os factos alternativos de Costa e a progressiva instrumentalização do aparelho do Estado pelo PS, é um indício preocupante do futuro que nos espera se o PS de Costa, tal como o PS de Sócrates, só for derrotado pela realidade.

Já virámos a página da austeridade

O calendário eleitoral influencia tudo e no tudo incluem-se as cativações, uma das ferramentas a que o Ronaldo das Finanças tem recorrido abundantemente para cumprir a «obsessão do défice» (era o nome de Costa para o o rigor orçamental do governo anterior). Sem surpresa, as cativações baixaram este ano para 582 milhões no primeiro semestre e ainda mais previsivelmente não se sabe ainda quais os montantes do segundo semestre que Centeno só revelará depois das eleições.

Se há áreas onde o Estado não pode falhar é a da segurança pública, incluindo o policiamento das cidades. Enquanto prossegue a agenda berloquista da «identidade dos géneros» e legisla sobre os urinóis das escolas, falha na segurança policial, pelo menos no Distrito do Porto onde várias esquadras fecham durante a noite. Dizem os polícias que é falta de efectivos, causa estranha quando temos uma das polícias mais numerosas da OCDE (ver a série de posts «Casos de polícia»). Inclino-me para a causa do costume - a incompetência da gestão socialista do Estado Sucial.

Boa Nova

A descida dos juros (em rigor dos yields) tem sido uma fonte de boas novas que o governo atribui ao seu rigor orçamental (antigamente chamado «obsessão do défice»). A tese é bonita mas não gruda na realidade quando se sabe que dos 10 dos 19 países do Euro já têm taxas negativas na dívida a 10 anos, onde ainda não chegámos.

O choque da realidade com a boa nova

Recordam-se, após a mais de uma centena de mortos nos incêndios florestais, da criação celebrada com pompa de uma «Estrutura de Missão para a Gestão Integrada de Fogos» presidida por Tiago Oliveira? Alguém teve notícias das suas realizações desde então? Uma pesquisa no site do governo pelo pomposo nome da estrutura tem como resultado «sem resultados para a pesquisa efectuada». É claro que isto para Costa nunca será um problema, mas antes uma oportunidade - a oportunidade de, esquecida a primeira, anunciar de uma nova «estrutura» e encher tempo de antena.

Recordam-se do anúncio dos passes de estudante com desconto de 25%? Até hoje o governo não pagou um cêntimo aos operadores de transporte. É claro que isto para Costa nunca será um problema, mas antes uma oportunidade - a oportunidade de anunciar com estrondo o pagamento atrasado 9 ou mais meses, o que encherá mais umas linhas publicadas pela imprensa amiga.

«Em defesa do SNS, sempre»

Além das falhas do costume, helicópteros do INEM avariados, 350 vagas para médicos não preenchidas, tivemos esta semana um eloquente declaração de princípios da ministra da Saúde numa entrevista enquadrada na campanha eleitoral patrocinada pelo semanário de reverência. Ficámos a saber que a senhora é de esquerda e que para ela os males consistem no «cancro que está a percorrer o SNS em termos práticos (que) é a prestação de serviços». É todo um programa que já começou a ser aplicado na gestão do Hospital de Braga. O resultado final é os «privados», como diz a esquerdalhada, ficarem a tratar da classe média que tem seguro de Saúde e dos utentes da vaca marsupial pública que dispõem da ADSE, e um SNS pantagruélico e ineficiente fica a cuidar da ralé.

As greves e manifs são legítimas? Depende / Quem se mete com o PS leva

Já tínhamos o caso da Ordem dos Enfermeiros que está a ser alvo de uma sindicância cujo propósito claríssimo é afastar a bastonária. Não se discute que a Ordem dos Enfermeiros possa ter metido o pé na argola, mas outras ordens profissionais e sindicatos o fizeram sem que isso tenha desencadeado a sanha do ministério da Saúde. O título do semanário de reverência diz tudo «Bastonária da Ordem dos Enfermeiros na mão do Ministério Público».

E agora temos o culminar da tentativa do ministério do Trabalho ilegalizar o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas com o fundamento em «desconformidades» encontradas por encomenda pelo Ministério Público na constituição e nos estatutos do sindicato, MP que pediu a extinção do sindicato. É uma espécie de renascimento do ministério das Corporações que ilegaliza os sindicatos clandestinos.

Não admira que os despachos de serviços mínimos tenham batido este ano todos os recordes atingindo 66 casos até ao dia 25 de Agosto. Tudo com a complacência do berloquismo, para quem não tendo sindicatos é igual ao litro, e dos comunistas o que a prazo não deixará de ter como consequência indesejada o surgimento de novos sindicatos desalinhados e a perda de influência do PCP.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Os mídia andam um pouco baralhados com o discurso ambíguo do governo que se por um lado celebra a prosperidade que lhe devemos (por ter exportado imenso e recrutados uma legião de turistas para nos visitarem), por outro vai acautelando o discurso para o caso do diabo chegar. Diabo que é como um antigo líder da oposição que garantiu que seria primeiro-ministro só não sabia quando.

Devido a essa baralhação, podemos encontrar títulos, na linha amanhãs que cantam, como «Economia mantém fôlego e cresce 1,8% no segundo trimestre» ou «INE confirma PIB a crescer 1,8% com investimento a travar» e títulos na linha optimismo responsável como «Economia portuguesa continua a crescer, mas há razões para estar preocupado». Quanto aos factos, não parecendo, são os mesmos: as importações continuam a crescer, ainda que a um ritmo mais baixo, as exportações continuam a desacelerar, principalmente os serviços onde pesa o turismo, o investimento desacelera também incluindo a construção que teve uma quebra no 2.º trimestre e aqui convém recordar que temos uma economia descapitalizada, e o emprego está a chegar ao seu limite o que com a estagnação da produtividade significa que o crescimento futuro está comprometido.

Tudo isto, como de costume, não parece preocupar os consumidores ainda na fase dos amanhãs que cantam, que estão mais confiantes e compram como se não houvesse amanhã, talvez inspirados pelo Ronaldo das Finanças que não hesita em garantir que hoje, com uma dívida pública que é praticamente o dobro da de 2008, Portugal está agora «melhor dotado» para uma crise do que em 2008.

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