13/06/2019

Dúvidas (266) - E se crise da direita fosse apenas o resultado de os portugueses preferirem mais do mesmo em vez de menos do mesmo?


«Desde então, a dinâmica do “revezismo” governamental nunca mais deixou de ser a mesma: o PS propõem-se ser mais do mesmo, o PSD a ser menos do mesmo. O “despesismo” e a “austeridade” com que estes dois partidos respectivamente se acusam não passam de um resultado deste ciclo que repete há quase 25 anos: o PS governa enquanto a economia internacional e os bancos lhe permitem usar o Estado para saciar as mais variadas clientelas e dar aos cidadãos uma temporária (e relativa) prosperidade, e o PSD só lá volta quando a generosidade alheia se esgota, e só com a bengala do CDS (um partido de socialistas que gostam de usar o rótulo de “direita” como instrumento de afirmação de uma suposta superioridade social que mais ninguém lhes reconhece) a sustentá-lo, e nunca com os meios orçamentais necessários para repetir os “sucessos” do “cavaquismo”.
A crise do PSD vem daqui: em virtude das circunstâncias e dos caprichos da Fortuna, o PSD nunca de 1994 para cá teve oportunidade de recorrer ao Estado e ao festim do Orçamento para encher os bolsos de um número suficientemente grande de portugueses, e em Portugal só se conseguem maiorias absolutas quando existe essa oportunidade.

(...)

Mas – no seio do PSD e fora dele – “direita” e “esquerda” são cada vez mais meras etiquetas que os seus enunciadores usam como símbolo oratório sinalizador do seu desejo de se afirmarem (nem sempre com honestidade) como independentes de favores do Estado ou como pessoas preocupadas com as desigualdades de rendimentos e más condições de vida em Portugal. Na realidade, o problema é outro, e bem mais complicado, especialmente para o país: o PSD está em crise porque o Estado não tem, duradouramente, recursos para rechear as contas bancárias de uma suficiente vastidão de portugueses, e o facto de esse problema ser causa de uma crise no PSD mostra como não há em Portugal uma “base social de apoio” a uma série de reformas que pudessem tornar a sociedade mais próspera. Por isso mesmo, o PSD continuará em crise, e o país com ele.»

A crise do PSD e a crise do País, Bruno Alves no Económico

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