«É mais do que sabido que uma das razões do sucesso do actual governo está no controlo da contestação social organizada – factor para o qual contribuem PCP e BE, diminuindo a crispação nas suas estruturas sindicais e profissionais. O que menos vezes é assinalado é que esse controlo da máquina do protesto não serve só para influenciar o ambiente do debate político e a tomada de decisão quanto a medidas concretas. Esse domínio do poder e do protesto organizado, estendido às redes sociais através de contas (algumas anónimas) com milhares de seguidores, é também uma arma de intimidação constantemente apontada a quem ousa desafiar os planos dos seus titulares. A retaliação é implacável: acusações, pressões institucionais, agressões pessoais e envolvimento da família – o que for necessário para, mais do que abafar a mensagem, fazer o mensageiro pagar o preço. E, assim, lançar também um aviso público: quem ponderar seguir pelo mesmo caminho fica a saber o que esperar.
Do outro lado da barricada, surge a pergunta que, goste-se ou não, é inevitável: valerá a pena passar por isto, tornar-se saco de pancada e arriscar consequências pessoais e profissionais? São muitos mais os que decidem que não, não vale a pena: basta ouvir o que tantos empresários, políticos, jornalistas e académicos dizem em privado e depois não repetem em público. Poder-se-ia, então, concluir que esta máquina de intimidação funciona porque a cobardia é mais numerosa do que a valentia. Por mais que tudo isso seja desanimador, o ponto que importa não é esse. O verdadeiro ponto está na pergunta de partida ter de ser colocada: algo está mal quando o poder se alimenta da intimidação e quando o exercício concreto da liberdade ascende a acto de coragem.»
Excerto de «Coragem», Alexandre Homem Cristo no Observador
Roger Scruton é talvez o melhor(nos dias que correm)a desconstruir as falácias(e utopias que dão em caos)do "progressismo"
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