«Estamos portanto no momento de maior poder para Marcelo e isso não é uma boa notícia para o país. Não estão em causa a sensibilidade e a generosidade do cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. Nem o seu encanto, a sua cultura, a sua graça ou a sua inteligência. Acontece que as qualidades que levam a que todos gostássemos de ter Marcelo como professor, convidado para o jantar ou como vizinho não chegam para fazer dele um bom Presidente da República. Muito particularmente a sua dependência da popularidade que o tornou um excelente contacto para jornalistas e frequentadores da praia do Guincho, leva-o ora a tomar posições com uma ligeireza pueril ora a adoptar com uma volatilidade cruel o ponto que lhe é mais favorável no julgamento dos comentários do dia: a diferença de atitude de Marcelo Rebelo de Sousa face aos incêndios de Junho (Pedrogão) e de Outubro é reveladora dessa gestão das circunstâncias em função da sua popularidade: depois de ter andado com Costa ao colo, Marcelo desembaraça-se dele.
Do outro lado está António Costa que oscila entre a rudeza jacobina nos momentos em que sente forte e o acabrunhamento egocêntrico de quem, tendo sido sempre protegido, não consegue enfrentar as dificuldades. A frase “admito ter errado na forma como contive essas emoções” a propósito dos incêndios é digna de um consultório sentimental não de um chefe de governo. Morrem mais de cem pessoas em parte por falhas do Governo e a palavra responsabilidade continua a não ser pronunciada por António Costa. O que ele assume é ter contido as emoções. Estamos bem servidos! Ou seja Costa arrepende-se de não ter feito como Marcelo e ido por esse Portugal fora abraçando e beijando. Neste momento aliás não há líder que não se sinta compelido a imitar Marcelo.»
Excerto de «Os populares», Helena Matos no Observador
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