O know-how do governo na produção de estatísticas de causas está-lhe tão natureza que até em matérias em que a aldrabice é facilmente verificável não resiste a aldrabar. Os recordes de desgraças neste Verão em matéria dos incêndios que o governo propalou terem sido batidos para se desculpabilizar pelo fracasso, tais como o mês de Julho mais quente, a maior área ardida, o maior número de ocorrências num só dia, mais reacendimentos, mais fogos postos e falhas do SIRESP, foram todos aldrabados, segundo o fact-checking do Expresso, a quem nesta circunstância desalinhada temos de dar crédito.
E como a aldrabice contamina todas as áreas, não se estranha que a acusação que o governo de Costa tem feito ao de Passos Coelho quanto à execução dos fundos comunitários é mais uma mistificação porque, como o Negócio mostra aqui, a comparação do QREN da responsabilidade do governo anterior com o Portugal 2020 da responsabilidade do actual, quer nas taxas de compromissos, quer nos níveis de execução, quer nos atrasos, é desfavorável ao governo de Costa.
Depois de excitados pré-anúncios de crescimento acima de 3% no 2.º trimestre, o crescimento do PIB veio a situar-se em 2,8% e foi o suficiente para a geringonça e os seus opinion dealers embandeirarem em arco com o maior crescimento do século. Antes de prosseguir, conviria relativizarmos a excitação e ver o que se está a passar na UE e onde os nossos 2,8% são apenas a 14.º taxa de crescimento entre os 21 países para os quais já há dados e a uma distância respeitável da Roménia, Letónia, República Checa, Polónia, Lituânia e Bulgária, os restos do império soviético que colapsou com grande desgosto de duas das peças da geringonça. É uma comparação injusta para Portugal que, não tendo sido atingido directamente por esse colapso, foi vítima do PREC, um processo em que precisamente essas duas peças tiveram um papel predominante, que só durou 20 meses mas causou quase tantos danos como os 40 anos de ocupação soviética.
Em segundo lugar, conviria olhar para esse crescimento numa perspectiva dinâmica e constatar que a variação trimestral em desaceleração parece indiciar que o crescimento irá abrandar e, se for assim, o crescimento homólogo irá diminuir. Veja-se o diagrama seguinte:
Jornal Eco |
Multiplicam-se os sinais de que o espírito de rebanho nos pode levar à ruína, como no passado recente e em vez de aproveitarmos o bom momento da economia - muito puxado pelo turismo, recorde-se - para fazer a reformas indispensáveis, continuamos a chover no molhado com políticas pró-cíclicas. De acordo com o compromisso com a CE, o governo deveria estar a reduzir o exército de funcionários públicos e em vez disso no 1.º trimestre deste ano aumentou 1,3% ou mais de 8 mil novos utentes da vaca marsupial pública. Em vez de flexibilizar o mercado de trabalho e incentivar a procura de emprego, o governo dispõe-se a negociar com comunistas e bloquistas o fim da redução de 10% do subsídio de desemprego.
Como seria de esperar, os consumidores respondem a estes sinais do governo e o crédito para a compra de veículos particulares continuou em alta, tendo tido crescimentos homólogos em Junho de 23,9% nos novos e de 25,2% nos usados. O aumento do consumo de bens duradouros, na sua quase totalidade importados, vem colocar uma pressão sobre a balança comercial tornando muito difícil mantê-la equilibrada quando simultaneamente é indispensável aumentar o investimento em equipamentos, em grande parte importados, uma vez que a economia está próxima de atingir o seu potencial. As consequências são visíveis e segundo o Eurostat no 1.º semestre as importações e as exportações cresceram 14% e 12% atingindo 34,1 e 27,8 mM, respectivamente, fazendo o défice aumentar de 5 para 6,3 mM.
Para ajudar à festa e comprometer o contributo que o turismo tem dado para equilibrar as contas externas, o sindicato dos inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras controlado pelos comunistas convocou uma greve para 24 e 25 de Agosto que poderá afectar 30 mil passageiros e 85 voos.
Mantêm-se as práticas de caloteiro na execução orçamental. No final de Maio, a dívida dos hospitais públicos teve um aumento homólogo de 24% e atingiu 1,2 mM de euros.
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