«Que não fez a rutura com o passado que gostaria de lhe ter visto fazer.
Escrevi-lhe cartas e tive reuniões com ele para lhe dizer que se ele não cortasse com a herança de Sócrates, os herdeiros iriam destruí-lo, era só uma questão de tempo. Ele, bem intencionado, dizia que era preciso unir o partido. Eu sempre estive convencido de que não havia união possível com aquilo a que se convencionou chamar "tralha socrática". E assim foi.
E António Costa faz parte dessa "tralha"?
Claro que 'sim, é uma emanação da governação de Sócrates, é dos que nunca levantaram um dedo a dizer "isso está mal". Aquilo que é hoje a força do PS é uma extrema fidelidade ao chefe. Como se vê na forma incompetente como o PS e o Governo geriram a questão dos fogos e que foi a gota de água que me fez demitir: Costa, talvez mais do que Sócrates, tem a política de escolher os amigos, ou os muito fiéis ao partido, para cargos para os quais não têm as competências necessárias. Na tragédia de Pedrógão Grande, ficou claro que Costa não tem estatura de grande dirigente político: era naquele dia que se tinham de tomar grandes medidas, que se tinha de identificar as pessoas que falharam, de se responder à pergunta porque é que se atacaram os fogos em vez de se protegerem as populações, que é uma pergunta que tem de ter uma resposta rápida.
Não precisa de uma comissão técnica independente?
Para isso não. Talvez a característica mais lamentável do PS no nosso tempo é que manipula a opinião pública com informações erradas ou com falta de informações, quando a característica principal de um partido democrático é a transparência, a boa informação. Ora, um país não pode desenvolver-se com base na mentira e na manipulação da verdade. Mas não houve um socialista que tenha feito a mais leve crítica ou sugestão. Isto prova uma reverência ao chefe, uma fidelidade quase canina, muito pouco própria num partido democrático.»
Excerto de uma entrevista do Expresso a Henrique Neto, um socialista honrado que nunca ficou silencioso
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