Outras avarias da geringonça.
Começo esta crónica com a grande novidade desta semana: o presidente dos Afectos saltou de pára-quedas e deixou a geringonça desgovernada com os motores a falhar e em risco depois de um mensis horribilis.
Retornando ao incêndio de Pedrógão Grande, em primeiro lugar separemos a ocorrência, que nada tem a ver com este governo, com a resposta que lhe foi dada de que o governo é o único responsável. Um mês e meio depois surge cada vez com maior nitidez um quadro de enorme incompetência que na sua maior parte tem a mão de Costa [ver A obra feita de Costa nos incêndios florestais (1) e (2)]. A começar com as falhas do SIRESP, que continuam agora em Mação, em que Costa está enfiado até ao pescoço, e a continuar com a colocação dos seus boys na Autoridade Nacional da Protecção Civil - um dos casos mais escandalosos foi a substituição de um comandante distrital licenciado em Protecção Civil e bombeiro com mais de 20 anos de experiência por um advogado e mandatário da candidatura do PS à câmara de Alcobaça que passou pelos bombeiros voluntários. O amadorismo é tão grande que as criaturas que comandam o combate aos incêndios nem sequer tomam em conta as previsões do IPMA sobre a direcção dos ventos para posicionar os recursos, nomeadamente os meios aéreos (ver aqui).
Relembremos também a baderna na caserna que têm sido as explicações confusas e contraditórias das chefias militares e das secretas, mais próprias de uma república das bananas do que de um país por acaso ancorado na ponta da Europa.
No seu afã de repor o statu quo ante, o governo da geringonça eliminou um factor de exclusão para o «benefício do Rendimento Social de Inserção» (note-se a elegância da frase para designar um subsídio de suposta pobreza) introduzido pelo famigerado governo neoliberal, a saber: a posse de um veículo de mais de 25.300 euros. Bem-vindos ao Estado Sucial.
Que os indicadores de confiança do INE continuem a melhorar e tenham atingido este mês o valor mais elevado desde que há registos não é coisa que inspire confiança a mentes cartesianas conhecedoras da psique lusitana e da história recente. Pelo contrário, se nos lembrarmos dos precedentes, é um motivo de desconfiança.
Mas então ó cépticos, a economia não cresce? Cresce sim senhor, mas convirá estar atento ao índice de produção industrial que desacelerou no 2.º trimestre e ao do comércio a retalho que acelerou. E o desemprego não desceu outra vez? Desceu sim senhor para 9%, o valor mais baixo desde 2008. Contudo, se até recentemente o número de desempregados diminuiu e a população empregada aumentou mais do que a redução do desemprego, nos dois últimos meses o crescimento do emprego foi inferior à redução do desemprego, ou seja, a população activa diminuiu. A isto acrescente-se o facto de o número de jovens que chegam ao mercado de trabalho diminuiu numa década de cerca de 50 mil. E ainda o facto de a criação de emprego se ter verificado principalmente num sector turístico sujeito a sazonalidade e volatilidade.
E convirá lembrar que a animação da economia pelo turismo deve mais ao estado-maior do Estado Islâmico do que ao governo do Estado Português. Por isso convirá olhar para aquilo em que o governo tem responsabilidades directas. Falemos então da gestão orçamental do Ronaldo das Finanças que está a começar a rebentar pelas costuras, sem surpresa para quem a segue com atenção. O que é novidade é Nicolau Santos, um dos mais notórios pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, especialista em encómios a todo e qualquer governo saído do Largo do Rato, começar a expressar na sua coluna da 5.º página do caderno de Economia do Expresso (que mais parece uma quinta-coluna do PS no semanário de reverência) «desconforto na execução orçamental». Porque no 1.º semestre o défice aumentou 264 milhões (9,4%), porque a explicação do MF (reembolsos do IRS) não cola, visto os reembolsos de IRS no 1.º semestre terem sido praticamente iguais aos do ano passado, porque a receita bruta do IRS cresceu apenas 0,46% muito abaixo do previsto (1,8%), porque o aumento «muito expressivo de 20,4% no investimento» de que fala o MF não impede que o investimento efectivo tenha sido apenas 1,8 mM contra um previsto quase 3 vezes maior (5 mM), porque as aquisições de bens e serviços cresceram 5,3% quando estavam previstos apenas 2%. A concluir, o pastorinho salva o Ronaldo das Finanças com o benefício da dúvida. Por mim dou-lhe o benefício da dívida, que não pára de crescer, e o prejuízo da certeza que estão a acabar os coelhos dentro da cartola.
Talvez com ciúme do controlo sindical dos comunistas, os berloquistas também quiseram apresentar uma prova de vida e a sua quase única comissão de trabalhadores resolveu convocar uma greve na Autoeuropa para o dia 30 de Agosto. Se os comunistas convocam greves por causa do «clima» os berloquistas convocam-nas para «reatar o diálogo».
Tendo em atenção a descapitalização da economia portuguesa e a poupança inexistente talvez conviesse ouvir com mais atenção os potenciais investidores estrangeiros. Por exemplo Jochen Felsenheime da Xaia Investment que já aplicou 100 milhões no Novo Banco e nos diz «Eu gosto de Portugal, gosto muito das pessoas e até gosto da cerveja Sagres… mas investir em Portugal é às vezes uma verdadeira confusão.» Imagine-se se a criatura não gostasse do país nem da cerveja...
Sete meses depois do fim de 2016 e vários meses depois de conhecida a execução orçamental, o Bloco de Esquerda, pela boca do líder parlamentar Pedro Filipe Soares, descobre o que estava à vista de toda a agente pelo menos há um ano e queixa-se: «Governo não tinha mandato para fazer cativações deste nível». Sabemos que os berloquistas não são muito dotados para descortinar a realidade mas, ainda assim, ou os vemos como uns zeros à esquerda ou ficamos chateados de nos insultarem a inteligência que nos resta.
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