Mais trumpologia.
Salvo erro, foi Nuno Morais Sarmento, muitos anos atrás, que cognominou com grande acerto Louçã de tele-evangelista quando este era uma presença ainda mais constante na televisão do que hoje. Desde então, Louçã tem sido o mais notório dos criadores de factos alternativos e de pós-verdades, quando estes termos ainda nem sequer existiam. Sem recuar mais no tempo, leia-se o que escreveu recentemente sobre o seu combate ao eucaplito, combate cujas premissas foram aqui e aqui reduzidos à sua dimensão de ignorância, arrogância e paranóia.
O que tem o tele-evangelismo de Louçã a ver com o trumpismo do Donald? Tem bastante. A caracterização do conteúdo (os factos alternativos e a pós-verdade), o estilo (demagogia) e o meio privilegiado (a televisão e as redes sociais).
«Made in America», o programa de protecção aos produtos americanos, é uma bandeira de Trump comparável ao combate aos eucaliptos de Louçã. Por exemplo no caso do aço, Trump pretende aumentar as taxas alfandegárias para limitar as importações e, segundo ele, trazer de volta os empregos que, sempre segundo ele, foram perdidos para a China e a Índia.
Recuemos a 2002, quando o governo de George W. Bush aumentou em 30% as taxas de importação do aço. Nessa altura foram destruídos 200 mil empregos nas indústrias que utilizavam o aço, um número superior ao dos empregos na indústria siderúrgica actualmente. (fonte Economist).
Se, como é provável, Trump usar na Organização Mundial de Comércio a excepção de «segurança nacional» para justificar o aumento das taxas, isso pode desencadear uma reacção dos países que importam produtos americanos, desde os aviões da Boeing ao sumo de laranja da Florida o que poderá comprometer todo o sistema de desmantelamento alfandegário penosamente construído desde o Uruguay Round com a criação da OMC e, no fim do dia, significar mais umas centenas de milhar de postos de trabalho perdidos por uma «boa causa».
https://youtu.be/JWDscHJONMc
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