Inevitavelmente, o nevoeiro conceptual presta-se a simplificações demagógicas nos mídia, por vezes até inesperadamente em jornais como o Observador que para noticiar o relatório da UNICEF «The State of the World’s Children 2016: A fair chance for every child« recentemente publicado escolheu o título «20% das crianças em países ricos vivem em pobreza».
Fonte: Rankings by Country of Average Monthly Net Salary (After Tax) (Salaries And Financing) |
Sendo considerada em situação de pobreza relativa uma família cujos rendimentos são 60% inferiores ao salário médio nacional, qual é o sentido de comparar uma família pobre nas ilhas Bermudas com um rendimento mensal de 2.700 euros com o de uma família pobre na Venezuela com um rendimento mensal de 17 euros. En passant, note-se que o rendimento médio num território capitalista como as Bermudas (4.638 euros) é 162 vezes maior do que num país socialista como a Venezuela (28,65 euros). Se não quisermos exemplos tão extremos, consideremos dois países europeus como a Suíça (4.420 euros) e a Albânia (260 euros). Se ainda assim for demasiado, compare-se o salário médio da Alemanha (2.158 euros) com o de Portugal (818 euros).
Para citar um livro recente sobre o mau uso das estatísticas, diria que comparar uma criança pobre em Portugal, para não ir mais longe, com uma criança pobre no Uganda, é assim como dizer que os seres humanos têm em média um testículo.
Já agora... também em média têm só um ovário...
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