É possível ter o pior de dois mundos? É sim. Veja-se o caso da geringonça que tentou aplicar o modelo do costume da Mouse School of Economics aumentando o rendimento disponível (da sua clientela eleitoral, note-se), para assim aumentar a procura interna e, por essa via, incentivar as empresas a investirem. A partir daí o multiplicador faria o milagre da multiplicação. Ao que parece, apesar do surto de compras de Natal (7 mil milhões de euros levantados das caixas MB, mais 8% do que no ano passado), os efeitos na procura interna foram limitados. Se alguma coisa se multiplicou foram as importações de bens duradouros, à cabeça dos quais os veículos particulares de que foram importados 207 mil em 2016, um aumento de 16,2% em relação a 2015 que também já tinha aumentado.
Continuam as pressões de comunistas e bloquistas para reestruturar a dívida, o que para eles, em português corrente, significa perdão parcial da dívida (total só mesmo nos seus sonhos mais húmidos). Entre os vários tiros nos pés resultantes do haircut, um deles, que vale até 10 mil milhões, como se pode ver no diagrama seguinte, é o tiro no pé do FEFSS, único fundo que pode atrasar algum tempo a insustentabilidade da segurança social.
Fonte: Expresso |
Como escreveram Miranda Sarmento e Moreira Rato, do ponto de vista da dívida, 2019 e 2021 vão ser ainda mais difíceis (ver os diagramas seguintes), sobretudo se os défices públicos continuarem elevados, tudo agravado pelo fim previsível ainda este ano das medidas de quantitative easing.
Banco de Portugal (via Eco) |
Se fossem precisos mais exemplos da irresponsabilidade e demagogia da geringonça, acrescentaríamos a reversão da reforma do mapa judiciário que fez reabrir 20 tribunais extintos, os quais reabriram sem processos nem magistrados e apoiados por funcionários das câmaras.
Como aqui se mostrou, os yields das OT a 10 anos passaram em 12 meses de 2,5% para mais de 4%. Em rigor, este movimento resulta de causas gerais, como as expectativas de subida da inflação, resultante entre outras razões do aumento dos preços do petróleo, e de razões específicas da situação portuguesa, que pesam muito mais, como se pode confirmar neste diagrama que contradiz a lengalenga de Costa sobre o «movimento geral».
O que me leva a repetir a pergunta de António Costa, o jornalista, ao seu homónimo primeiro-ministro: «se correu tudo bem em 2016, porque é que os juros da dívida pública a dez anos passaram dos 2,5% para os 3,8% (quando foi escrita a peça e 4% na 6.ª feira passada) nos últimos doze meses?»
À pergunta de Costa a Costa, acrescento mais duas: (1) porque foi adiada a adopção que deveria ter tido lugar em 1 de Janeiro deste ano do Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP) que permitiria controlar os compromissos futuros e evitar «o empurrar com a barriga»?; (2) porque foi adiada a implementação da nova Lei de Enquadramento Orçamental que permitiria um melhor enquadramento da preparação e execução do orçamento? (fonte Expresso) A resposta a ambas as perguntas é que isso limitaria a proverbial criatividade socialista, uma vez mais demonstrada no OE 2016.
Confrontado com o aumento dos custos de financiamento e o esgotamento do limite de 33% das OT portuguesas que o BCE pode deter, o que fará o governo? Provavelmente repetir o expediente da dupla Sócrates-Teixeira dos Santos e emitir OT de curto prazo chutando a pressão para a frente.
Agoniado, resisto a outro folhetim Caixa, mas não deixo de registar a confirmação no parlamento por António Domingues do papel de Centeno na comédia, e de recordar a tragédia que Sócrates encenou na mesma Caixa ao impor a nomeação de Santos Ferreira e Armando Vara, o que já se sabia mas foi agora confirmado, também no parlamento, pelo ex-ministro Campos e Cunha. Tudo isto, mostra, a quem ainda não tenha visto, que a Caixa é, agora que a PT desapareceu do mapa pela mapa engolida pelo minotauro no labirinto da Oi, a maior putain de la tepublique que ainda resta e que, pelos vistos, a geringonça pretende engordar juntando-lhe os restos de outra putain - o Novo Banco, as sobras do DDT.
Exaurida a agenda geringôncica, o PCP para fazer prova de vida manda os seus apparatchiks sindicais fazerem as manobras habituais. A FNSTFPS convocou uma greve dos trabalhadores da saúde para o dia 20 deste mês «para aplicação das 35 horas de trabalho semanais a todos os trabalhadores do sector e pela admissão de novos profissionais. A mesma FNSTFPS agendou para 3 de Fevereiro uma greve do pessoal não docente das escolas básicas e secundárias e dos jardins de infância «em protesto contra a falta de auxiliares nos estabelecimentos escolares e contra a precariedade laboral».
São greves menores para mostrar serviço, mas, pelos critérios habituais, não faltariam razões para acusações de o SNS estar a ser «destruído», com vários hospitais a rebentarem pelas costuras sem que se ouçam as indignações os protestos e indignações habituais, que de resto seriam inconvenientes neste momento em que comunistas e bloquistas pressionam Costa para «reverter» as PPP na área de saúde e para tal têm de alimentar a ficção da excelência dos hospitais públicos.
Foi entregue ao governo pela OCDE, há pelo menos três semanas, um relatório salientando as reformas laborais do governo PSD-CDS no período de 2011 a 2015. Com a habitual falta de vergonha, o ministro Vieira da Silva respondeu displicentemente que ainda não o leu.
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