Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres de vistas curtas.
E não fiz mal em insistir porque, desde Obama ao jornalismo de ocasião, toda a gente esperava, ou até garantia, que de Trípoli à Praça Tahrir iam sair, resplandecentes, novas democracias. Gostava de prevenir, para pôr ponto final no caso, que prever um acontecimento ou uma situação não significa ( excepto para mentes excepcionalmente estreitas) que se deseje esse acontecimento ou essa situação. Não significa mais do que tentar compreender o que se passa e de não criar falsas expectativas. Desde a Antiguidade que existiram tiranias e, fatalmente, uma luta constante contra elas. Mas regimes democráticos não existiram antes do século XVIII (existiu, de resto, um único: o americano). A resistência à opressão não produz necessariamente a liberdade. É isto muito difícil de perceber?»
Difícil de perceber?, 24-02-2011
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