Continuação de (I) e (II)
Ainda a propósito da transformação de Durão Barroso em bête noire da esquerdalhada e de alguns dos seus ocasionais compagnons de route (hoje a mão está a fugir-me para o francês, et pour cause) a pretexto da sua contratação pelo Goldman Sachs, é curioso registar que um dos detractores mais inflamados tem sido o Jean-Claude, o do comportamento «crescentemente errático». Juncker fez um intervalo nas suas palhaçadas e aproveitou a transformação de Barroso em bombo-da-festa embarcando na malhação com declarações que devem mais à demagogia do que a um sentido de Estado que uma criatura na sua posição deveria ter.
Antes de continuar, devo esclarecer que considero a decisão de Barroso mais imprudente do que eticamente questionável, porque ainda ninguém me explicou em que consistem concretamente os conflitos de interesse e quais os argumentos para a demonização da Golden Sachs que não são aplicáveis a uma dúzia de outros grandes bancos franceses, suíços, alemães e, claro, americanos.
Acontece que, além da demonstração da falta de sentido de Estado, as declarações de Juncker carecem de qualquer autoridade moral para censurar Barroso, e já agora, a Irlanda pela sua política fiscal, para quem como ele foi durante 18 anos primeiro-ministro de Luxemburgo e aprovou centenas de acordos fiscais secretos com multinacionais de vários países que lhes permitiam a evasão fiscal noutros países.
Recordo os «Luxembourg tax files», tornados públicos há 2 anos, a pretexto de mais um caso agora conhecido: a Comissão Europeia está a investigar um acordo fiscal entre Luxemburgo e a Engie, uma empresa francesa de energia, que lhe permitia evitar o imposto tratando transacções financeiras como dívida num país e capital em outro.
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