É uma fatalidade. Só o governo acredita, melhor, diz acreditar, nas suas metas. A UTAO estima que a dívida pública tenha subido para 131,6% no fim do 1.º semestre já acima da meta do governo no final do ano (124,8%).
É claro que, com toda a naturalidade, a situação portuguesa vista de fora inspira as maiores reservas. Como ao Commerzbank que vê Portugal e Espanha em «planetas diferentes». É natural, basta olhar para o diagrama seguinte com os yields a 10 anos para ter de concordar com esse juízo que a gerigonça talvez possa ignorar. Contudo, já será mais difícil ignorar o que pensa a DBRS, a agência de rating que é a única a manter a dívida portuguesa acima do nível junk e dela depende o acesso ao crédito do BCE. E o que diz a DBRS? Diz que está «preocupada» o que em reitinguês quer dizer cuidem-se que estamos a considerar o downgrade.
Yields 10 anos Portugal e Espanha (Fonte: Bloomberg) |
Exagero? Nem por isso se nos lembrarmos que este crédito é concedido por uma banca presa por cordéis que se tem disposto a financiar o Estado português a um ritmo crescente, como mostra o diagrama seguinte que evidencia ter a exposição da banca portuguesa à dívida pública aumentado mais de 5 vezes em relação ao volume de activos detidos desde o início da crise de 2008.
Fonte: Insurgente |
Não deveria, por isso, surpreender ninguém que as contas externas se estejam a deteriorar. «O saldo conjunto das balanças corrente e de capital situou-se em -933 milhões de euros, que compara com -49 milhões no mesmo período de 2015. Todas as componentes da balança corrente e de capital contribuíram para a deterioração do saldo, com excepção da balança de bens e serviços (Económico).
Como o crescimento de 2,4% previsto no celebrado estudo dos 12 economistas do PS já vai em 0,8% (ver este esclarecedor post do Insurgente), Mário Centeno, que dirigiu esse estudo, substituiu na sua narrativa o aumento do PIB pela redução do desemprego. No comunicado do MF, onde dá conta que no 2.º trimestre o crescimento foi de 0,2% face ao primeiro trimestre, diz-nos que «o crescimento económico deverá ser sustentado nos sinais de franca recuperação do mercado de trabalho». Pois.
O folhetim da Caixa teve novos desenvolvimentos que seriam uma vergonha para um governo que a tivesse. A começar porque a lista de 19-administradores-19 do governo não estava em conformidade com as regras da directiva europeia já transposta para o direito interno português - que o governo inacreditavelmente agora se propõe alterar. A continuar porque o BCE chumbou oito dos nomes que não tinham nenhuma experiência bancária e apresentavam potenciais conflitos de interesse por serem administradores de empresas que têm ou podem vir a ter empréstimos da Caixa - a versão oficial é de que teriam cargos a mais, A continuar porque, suprema humilhação, dos 11 que ficaram, 3 serão obrigados a frequentar o curso de Gestão Bancária Estratégica do INSEAD. Pior é possível, mas difícil.
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