«Austeridade de esquerda? Além da responsabilização da Comissão Europeia, o Governo e os partidos que o suportam (PS, BE e PCP) têm sublinhado que esta é uma austeridade diferente – temos ouvido a expressão “austeridade de esquerda” ou “austeridade boa”. A ideia é de que o Orçamento defende “os de sempre” – pobres e classe média/baixa – e vai buscar o dinheiro a outros lados, da banca à classe média/alta. Quando se olha para o Orçamento como um todo, contudo, este argumento perde força. Medidas directamente para os mais pobres (RSI, actualização de pensões baixas, etc.) valem menos de 15% do bolo dedicado à “promoção do rendimento, equidade e crescimento”. Funcionários públicos (sobretudo os de salários mais altos), proprietários de restaurantes, pensionistas mais ricos (que pagavam a CES), famílias com rendimentos acima de 40 mil euros/ano (por via da redução da sobretaxa) representam 56% desse bolo de 1,4 mil milhões de euros. Mesmo as medidas para os que têm menos, como a eliminação maior da sobretaxa de IRS nos escalões mais baixos, arriscam serem absorvidas em parte pelo aumento (politicamente mais indolor) da subida dos impostos indirectos (a classe média/baixa também fuma e até anda de carro!). Mais do que distinguir entre classes de rendimento – e beneficiar de forma significativa as mais baixas – o Orçamento distingue entre grupos específicos (com a função pública à cabeça), à medida dos partidos que o vão aprovar.»
Bruno Faria Lopes no Negócios
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