Depois vários posts sobre o caso Banif (dúvida original, dúvida reformulada, presente de Natal socialista e nevoeiro (1), ainda um outro para ajudar a dissipar o nevoeiro ignorante e/ou malicioso plantado pelo jornalismo de causas e os opinion dealers.
O caso Banif é tão grave como o BNP?
Não parece. Não há indícios de burlas ou fraudes e o banco ficou capitalizado em 2013. Na entrevista à SICN da semana passada (citada aqui), Jorge Tomé rejeitou categoricamente a existência de imparidades não registadas.
Para onde vai o dinheiro dos contribuintes que o governo PS irá enterrar no Banif?
Por agora não vai para lado nenhum. É na sua maioria entrada de capital para o Banif cumprir os rácios, depois de ter sido obrigado a criar provisões para cobrir perdas futuras de crédito mal parado.
Quando, dentro de meses ou anos, se confirmar a irrecuperabilidade de alguns desses créditos, então podemos dizer que o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo governo PS (ou outro) foi parar aos bolsos dos Emídios Catum (empresário da empresas falidas de construção e imobiliário nas listas do BES e do BPN e, sabe Deus, do Banif), dos Luíses Filipe Vieira (17 milhões ao BPN e 600 milhões ao BES), dos Duartes Lima (calotes no BPN e Novo Banco), dos Arlindos Carvalho (calotes ao BPN para compra de terrenos), dos Dias Loureiro (calotes ao BPN e suspeito de burlas e crimes fiscais). E no caso do BPN foi ainda parar aos bolsos de mais de 500 clientes com dívidas iguais ou superiores a meio milhão de euros. (Dados citados por Nicolau Santos no Expresso Curto, que, não por acaso, praticando o seu jornalismo engagé destaca a gente próxima de Cavaco Silva).
A condução do caso pelo governo PS
Na citada entrevista, Jorge Tomé deu conta de vários factos que põem em causa a condução pelo PS do processo, nomeadamente (sirvo-me do relato do jornalista António Costa):
«Reconheceu que na quinta-feira seguinte à notícia, ainda assim, tinha propostas para a compra da participação do Estado no Banif melhores do que aquela que foi decidida. Inclusivamente da parte do Santander.
Afirmou desconhecer que o Banif teria perdido o estatuto de contraparte do BCE, e disse estranhar que tal fosse verdade, até porque apesar das restrições de liquidez, alegadamente por causa da dita notícia, o Banif estava a funcionar normalmente e em melhores condições do que estava quando entrou em funções.
Deixa implícita uma suspeita, grave, a de que o Banco de Portugal negociou a venda dos activos do Banif ao Santander por baixo da mesa e de forma pouco transparente.
Denuncia explicitamente que a operação de venda de activos do Banif serviu para pôr os contribuintes a financiarem o fundo de resolução e na prática os bancos do sistema. Como? Ao transferir para o fundo de resolução activos do Banif a um preço de saldo que depois serão vendidos com mais-valias. A compensação por essa transferência é assegurada pelo cheque que é passado pelos contribuintes.»
Já agora, acrescente-se, que Jorge Tomé também acusa justamente, como no referi no post anterior, o governo PSD-CDS de encanar a perna à rã, entalado entre o calendário eleitoral e a venda do Novo Banco.
Em resumo, o governo PS fez um golpe de mestre: poupou os suspeitos do costume à custa da multidão anónima de contribuintes que pagarão a factura; fez um favor ao Santander (objectivamente, sem a menor dúvida, e talvez subjectivamente); puxou o lustro à imagem mostrando um grande expeditismo muito louvado pelo seu público e, last but not least, fez tudo isso às custas do governo PSD-CDS que ficou muito mal na foto – onde aliás nunca ficaria bem.
Aditamento:
Já depois de escrito este post, li o artigo «A complexa engenharia financeira para “resolver” o Banif» no Observador que descreve objectivamente os aspectos técnicos da operação, cuja leitura se recomenda.
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