«Formulo perguntas simples: é possível algum entendimento frutuoso em torno das reformas imprescindíveis à sustentabilidade do Estado Social nas suas múltiplas vertentes? É antecipável qualquer reforma útil no plano da política económica? É perspectivável qualquer alteração minimamente razoável do nosso sistema de organização política? Sejamos claros: não é. O PS, se fizer um acordo desta natureza, renuncia à sua dimensão de partido transformador e reformista.
Seríamos por conseguinte levados à constatação de que o PS estaria condenado a ser uma espécie de muleta da direita? Nada mais falso. O PS devia assumir em toda a plenitude o estatuto de principal partido da oposição, impondo sérias limitações à acção do governo e não desvalorizando as convergências possíveis com os partidos situados à sua esquerda. Só isso alteraria drasticamente a situação política do país. Essa parece-me ser a solução que melhor serve o interesse nacional e aquela que verdadeiramente se inscreve na história do Partido Socialista. No momento em que escrevo não consigo aperceber-me do grau de adesão a esta tese no interior do meu partido. Pouco importa. Raramente me assistiu uma tão profunda convicção de ter razão. O pior que pode acontecer a um político é ter receio da solidão.»
Francisco Assis no Público
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