12/04/2015

Mitos (193) – Mitologia grega (III)

Outras mitologias gregas (I) e (II)

«O Syriza explorou o filão a que se chama “política do ressentimento”. Existe tanta raiva e insatisfação na Grécia desde a crise que se tornou claro que uma abordagem política populista como a do Syriza e dos seus aliados poderia tirar grande partido desse ressentimento. E foi exatamente isso que aconteceu.

Neste momento, o governo está a sentir as consequências da enorme divergência entre a realidade e o universo paralelo que criaram através da sua retórica, garantindo que “sair da crise seria tão fácil, basta livrarmo-nos destes traidores estrangeiros e a crise acaba e o emprego volta” e outros disparates. Isto está tão longe da realidade que existe um choque muito grande no governo. Não é muito fácil prever como é que esta dissonância cognitiva vai ser resolvida. Uma hipótese é que Alexis Tsipras tente marginalizar a ala mais extremista do seu governo e procurar um caminho mais moderado, talvez formando alianças com forças mais moderadas. Esse é o cenário benigno. O cenário menos benigno é que, perante esta dissonância cognitiva, podem escolher manter-se fiéis à retórica e caminhar para o abismo, ou seja, a saída da zona euro e, provavelmente, da União Europeia também.

Julgo que se nos afastarmos e olharmos para a situação atual de uma perspetiva histórica, constatamos que as forças económicas que poderiam ter apoiado uma iniciativa política moderada e modernizante têm um papel reduzido na sociedade. Vejamos: a maioria das empresas gregas não exporta. Prosperam quando têm relações especiais com o Estado. Não temos uma dinâmica de classe média burguesa que exporta, que poderia insistir em políticas diferentes. Não temos sindicatos que vejam que é do seu interesse que a economia grega obtenha uma maior proporção do seu rendimento com a venda ao exterior, para promover o crescimento de que dependem. Os nossos sindicatos pertencem ao setor público em setores nacionalizados. Estão no centro do problema e do clientelismo e da corrupção. E nós, como políticos progressivos, não temos conseguido ser convincentes e estamos, agora, a pagar o preço. É muito difícil concorrer com o populismo, que promete que os problemas se resolvem em cinco segundos

Excertos da entrevista do Observador a Manos Matsaganis, economista e professor da Athens University of Economics and Business.

Sem comentários:

Enviar um comentário