«Esse Socialismo de Estado, que muitos apregoam e aconselham como um regime avançado, seria, na verdade, o sistema ideal para lisonjear o comodismo nato e o delírio burocrático do comum dos portugueses. Nada mais cómodo, mais garantido, mais tranquilo, do que viver à custa do Estado, com a certeza do ordenado ao fim do mês e da reforma no fim da vida, sem a preocupação da ruína ou da falência. O Socialismo de Estado é o regime burguês por excelência [ ... ].O Estado não paga muito mal e paga sempre. É-se desonesto, além disso, com maior segurança, com segura esperança de que ninguém repare. As próprias falências, os desfalques, as irregularidades, se há compadres na governação, são facilmente abafados e os défices cobertos - regalia única! - pelos orçamentos do Estado. As iniciativas, por outro lado, não surgem, não progridem, porque o patrão é imaterial, quase uma imagem. As coisas marcham com lentidão, com indolência, com sono. É possível que essa socialização tenha dado ou possa vir a dar óptimos resultados em qualquer outro país. Entre nós, os resultados não podem ter sido piores nalgumas experiências já feitas.»
António Salazar em entrevista a António Ferro em 1932 (a propósito da evocação de António Ferro na Revista E do Expresso do passado dia 3)
Que o Homem sabia da vida e das gentes, sabia, e muito. Até parece bruxo.
ResponderEliminarEle e o Eric Blair, aka George Orwell.
Abraço
Pensar assim 1932...é espantoso.
ResponderEliminarAté parece que estava a seguir de perto o que estava a acontecer na URSS.