03/03/2015

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (12)

Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», (2), (3), (4), (5), (6), (7) , (8), (9), (10) e (11).

«Porém, se olharmos com alguma frieza para o que podia António Costa ter feito para hoje a situação ser radicalmente diferente, chegamos a uma conclusão simples: é muito mais difícil ser líder do PS do que parece, porque é muito difícil ser líder de qualquer partido socialista na Europa de 2015.

O primeiro problema de Costa é saber onde situar o seu PS: no centro-esquerda, onde sempre esteve e onde obteve os seus melhores resultados eleitorais, ou mais à esquerda, para cobrir um flanco que, como se vê por essa Europa fora, mas é sobretudo evidente em Espanha e na Grécia, pode estar vulnerável?

Quem quer tenha este realismo sabe, tem de saber, que não pode fazer grandes promessas. Não se trata de não ter ainda elementos ou estudos para poder concretizar essas promessas, é pura e simplesmente não as poder fazer. Pela razão simples de que o nosso futuro, tal como o dinheiro de que vamos dispor, deixou de estar nas nossas mãos ou de depender da nossa vontade.

O dilema actual da generalidade dos partidos socialistas dos países desenvolvidos da Europa Ocidental é que, cada um à sua maneira, estão a ser vítimas do seu próprio sucesso, isto é, da concretização do modelo de sociedade que sempre defenderam: economia de mercado com Estado Social. E estão a lidar mal com os dilemas que as necessidades de reforma desse mesmo Estado Social coloca. Enquanto foi possível ir aumentando os impostos, foi possível pagar as promessas que se iam fazendo, mas isso começou a acabar ainda na década de 1970 nos países nórdicos e em Inglaterra. Mais tarde acreditou-se que o dinheiro barato poderia substituir os impostos que faltavam, e muitos começaram a endividar-se, mas tal levou depressa a descalabros como o grego e o português.

A história tem pois destas ironias: o homem que calculou todos os timings para só ocupar o palco no timing certo e ter pela frente uma autoestrada que o levaria ao poder, é o mesmo homem que não consegue controlar qualquer timing, que não consegue sequer saber o que deve pensar e defender.»

Excertos de «Os problemas de Costa não estão nos seus primeiros 100 dias. Estão nos próximos 200», José Manuel Fernandes no Observador

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