01/03/2015

SERVIÇO PÚBLICO: Portugal-Grécia, iguais mas diferentes e diferentes mas iguais

Há mais de 11 anos que intermitentemente aqui no (Im)pertinências se recorre ao modelo 5-D de Geert Hofstede para compreender a cultura (no sentido sociológico) dos indígenas e de outros povos. Pois bem, o modelo é igualmente adequado para compreender a diferenças entre países.

Vejamos o caso Portugal-Grécia à luz das reacções à intervenção da troika, agora rebaptizada de «instituições», e mais recentemente à luz da visão dominante nos mídia e nos opinion dealers domésticos do Processo Revolucionário Em Curso (PREC) conduzido pelo governo Syriza-Anel.

Enquanto por cá a “resistência” à troika foi bastante pacífica com manifestações de indignados que em poucos meses se cansaram e voltaram às suas vidinhas, na Grécia a coisa foi bastante violenta e durou bastante mais tempo.

Quando o Syriza, com pouco mais de 1/3 dos votos teve quase a maioria dos deputados e se coligou com o Anel, um partido xenófobo de extrema-direita, e iniciou o PREC grego com a tentativa de chantagem dos outros 18 países da Zona Euro, o jornalismo de causas, muitos opinion dealers e vários dirigentes políticos portugueses começaram por enfunar as velas dos amanhãs que cantariam, hoje em Atenas, amanhã em Lisboa e depois de amanhã em Berlim.

Gorada a tentativa de chantagem, o «movimento» lusitano reconverteu os cânticos tentando criar uma onda de simpatia piedosa para com as desgraças gregas, onda que, reconheça-se, está a ter muito mais sucesso do que os cânticos circunscritos a umas centenas de oficiantes.

Dito isto, vejamos no diagrama seguinte a comparação de Portugal com a Grécia no modelo de Hofstede.


Como se vê, não são muito diferentes, salvo no que respeita à masculinidade. Vejamos agora a posição de ambos no desconcerto das nações a respeito de 3 dimensões: individualismo-colectivismo, masculinidade-feminilidade e aversão ao risco, nos dois diagramas seguintes (estes diagramas são mais antigos do que o primeiro e podem apresentar pequenas diferenças de score).



E pronto. Está quase tudo explicado. Dois países muito próximos no que respeita à aversão ao risco e ao colectivismo e daí a falta de gosto comum pelo empreendedorismo, a dependência do Estado e o capitalismo de compadres – um ersatz do «verdadeiro» socialismo. Dois países colectivistas, mas bastante diferentes no que respeita à dimensão masculinidade-feminilidade: uma Grécia de machos batendo-se contra a polícia e, agora, dedurando os traidores (Portugal e Espanha) e um Portugal de fêmeas, apiedado dos desgraçadinhos, e daí as diferentes formas e intensidades da «luta contra o governo ao serviço da troika».

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