Outras marteladas.
Agora que a bazuca de Draghi volta a excitar as mentes, botemos alguma água na fervura citando mais um incréu – o economista alemão Daniel Stelter que umas semanas atrás disse, entre outras coisas, o seguinte ao Expresso.
«Acha que o BCE avançará para um QE total, incluindo a compra de dívida pública dos seus membros?
O BCE, na verdade, é a única instituição na Europa que funciona e já disse que fará "tudo o que for preciso" para salvar o euro. Mas, como eu digo, apenas ganhará tempo e dará mais umas rodadas de cerveja de borla ao pessoal perto do balcão do bar. O BCE corre o risco de acabar como um Fundo de Redenção da Dívida sem legitimação democrática para tal.
Isso não vai causar problemas complicados com alguns, nomeadamente com o Bundesbank e o governo alemão?
Vai, mas, no final, eu acredito que os políticos alemães acabarão por proferir essa via, pois esconderá o verdadeiro custo de "resgatar" a zona euro. Como já disse, prefiro a abordagem aberta - e não camuflada. Pois avançando pela via do BCE, continuamos a correr o risco de convulsões políticas. O caminho do BCE é muito lento e teremos de lidar com depressão por muitos anos.
Os franceses têm sugerido um "New Deal" europeu, pois consideram o pacote do presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker de 300 mil milhões de euros, anunciado hoje, como uma falsa promessa. o "New Deal" seria mais endividamento ou a solução?
Participei na semana passada numa discussão com economistas franceses. O que achei impressionante é continuarem a acreditar na capacidade dos governos em resolverem os nossos problemas. Os franceses são verdadeiramente socialistas, na minha opinião. Só os mercados livres podem gerar inovação e novas indústrias. O papel do governo é assegurar um bom enquadramento para que isso seja possível. Agora, julgar que mais 300 mil milhões de euros gastos pela União Europeia resolverão os problemas é ingénuo.
A sua abordagem é uma espécie de "terceira via", alternativa à austeridade e ao despesismo governamental, com uma muleta menor ou maior do BCE?
O ponto de partida foi os governos cortarem os seus gastos virados para o futuro - investimento, educação, inovação. Isso é totalmente errado. Temos de limitar o crescimento do crédito e tornar atrativo investir na economia real do ponto de vista fiscal, e não - repito - financiar a especulação. Esta terminaria automaticamente se voltássemos a ter taxas de juro normais. O meu ponto de vista central é que, como sociedades, temos de reduzir o consumo, que inclui o bem estar social, e investir mais no futuro.
Com todo esse conjunto de problemas, acha que um "momento Minsky" pode surgir?
O falecido economista Hyman Minsky falava de um esquema [em pirâmide) Ponzi quando o mutuário já não consegue pagar nem o capital nem o juro e espera ser resgatado pelo investidor seguinte. Neste momento, estamos todos a viver num esquema desses. Esperando ser resgatado pelo próximo. O problema é que a demografia diz- nos que há menos gente a entrar no esquema do que a sair. O que significa, por definição, que o esquema está no fim. O momento Minsky é o crash. Como todas as derrocadas é mais fácil explicá-Ias depois, do que antes. Mas é óbvio que o jogo está perto do final.»
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