Estória
Recapitulando: em vez de dissolver o parlamento em Julho de 2004 quando Durão Barroso emigrou para Bruxelas, dissolução que então faria todo o sentido porque a «transmissão de poderes» para Santana Lopes não fora legitimada por eleições, Jorge Sampaio, o PR em exercício e antigo secretário-geral do PS, esperou que o PS superasse a crise de liderança de Ferro Rodrigues e 5 meses depois, já com José Sócrates devidamente instalado no Largo do Rato desde Setembro, dissolveu o parlamento em 10 de Dezembro estribado nas pequenas trapalhadas de Santana Lopes. Tivesse o mesmo critério sido adoptado pelo então PR e pelo seguinte e os dois governos de José Sócrates teriam sido demitidos várias vezes. Contribuiu assim Jorge Sampaio para o início de uma longa caminhada interrompida 10 anos depois pela detenção à chegada de Paris.
Contudo, a gratidão de José Sócrates, a existir, poderia premonitoriamente ser retirada, menos de um ano depois da sua ascensão a S. Bento, pela defesa por Jorge Sampaio da «inversão do ónus da prova em matéria fiscal e redistribuição do ónus da prova em matéria penal», inversão que o faria agora, 9 anos depois, «ser culpado até prova em contrário», como oportunamente lembrou BZ do Insurgente.
Por isso, 7 anos depois da proposta de inversão do ónus da prova frustrada de Jorge Sampaio, faria mais sentido transferir a gratidão para o Tribunal Constitucional que em 2012, também talvez premonitoriamente, chumbou a proposta de lei do enriquecimento ilícito. Proposta que havia sido aprovada no parlamento com os votos contra do PS, talvez de novo premonitoriamente, e que não fora o oportuno chumbo teria obrigado José Sócrates a uma missão impossível: demonstrar como teria conseguido condensar em 2 anos os séculos que as suas hipotéticas poupanças com os rendimentos declarados exigiriam para comprar o apartamento de Passy.
Moral
Nem sempre quem nos ajuda a subir para o poleiro é nosso amigo; os verdadeiros amigos são sobretudo quem nos ajuda a não cair dele.
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