«O desacerto com o país do manifesto da Versalles é apenas um a somar aos muitos que em Portugal animam o discurso político: são os defensores da escola pública que colocam os seus filhos e netos em colégios privados; os que rasgam as vestes pelo SNS mas que à primeira maleita correm para os hospitais privados; os académicos das políticas de multiculturalidade mas que só entram nos bairros sociais quando uns jornalistas muito activistas lá vão fazer umas filmagens, para animar um documentário que passará num festival em Barcelona.
A vida está difícil. Mas ao contrário do que se supõe na pastelaria Versailles não está mais difícil para os mais pobres. Porque a vida desses sempre foi difícil. Ter imaginado que estes últimos iam complicar a sua já precária existência protagonizando revoltas ou supor que a vida dessas pessoas não seria afectada pela renegociação da dívida nos termos em que a propuseram no manifesto dos 70 é um sonho próprio de alguém que, comprazido pela superioridade das suas teses, se contempla no jogo de espelhos da Versalles.»
Helena Matos no Económico
A confirmar que a visão a partir da Versailles tem de ser bastante diferente da visão a partir da tasca da Buraca, vejam-se as conclusões do estudo do FMI que conclui ter o rendimento disponível das famílias diminuído no período 2008-2012 6,3% em média 6,3%, mas menos de 5% para os 20% mais pobres – os frequentadores da tasca da Buraca - e mais de 10% para os 20% mais ricos – os frequentadores da Versailles.
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