Os coronéis de hoje não devem ser os mesmos que, depois de terem organizado um golpe de estado inspirado nas suas reivindicações corporativas, fugiram às suas responsabilidades nas colónias há 40 anos, deixando-as entregues a exércitos tribais que se dizimaram durante 3 décadas. Se estão isentos dessas responsabilidades não estão isentos do ridículo de falar de revoluções das quais não participaram.
Por isso, se o ridículo matasse, a direcção da AOFA (Associação de Oficiais das Forças Armadas), representada por dois coronéis, não teria sobrevivido aos dislates produzidos numa conferência de imprensa, perante uma audiência de jornalistas de causas atentos, veneradores e gratos, onde deixou implícita a sua disponibilidade revolucionária («as revoluções não se anunciam, fazem-se») e falou em nome dos portugueses que não os mandataram para falar em seu nome («os portugueses estão a ser cozidos dentro de uma panela. E se para nos libertarmos tivermos de queimar o cozinheiro, o problema é dele!»).
Esta gente está enganada na latitude, na longitude ou na época. Alguém lhes deveria dizer que não compete a ninguém, muito menos à tropa, «consertar» o resultado de eleições legítimas.
Descolonização & democracia
ResponderEliminar"em nome da restauração da democracia, nós destruímos a vida, a economia, a paz de milhões de pessoas. Foi preciso esperar trinta anos para finalmente terem novamente uma vida normal em Angola, Moçambique, Guiné etc. – embora na Guiné ainda não tenham essa normalidade. E em Timor, enfim, sofreram tanto. Todos esses mortos, toda esta destruição foi provocada por irresponsabilidade e por uma conspiração internacional entre os EUA por um lado e a União Soviética por outro. E é altura de deixar de sermos enganados, de mentirmos pela história, e de assumirmos o que realmente se passou: não podia ter sido pior".
D. Duarte Pio
In: Diário do Minho, 23 de Janeiro de 2014